sábado, 8 de novembro de 2008

Especialistas advertem sobre impactos do aquecimento global

29/10/2008

Audiência Pública na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado (CMA). Foto José Cruz - Agência Senado
Cientistas membros do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) apresentaram durante esta quarta-feira (29) na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado (CMA) as conclusões dos últimos estudos do organismo sobre mudanças climáticas e seus efeitos. Martin Perry, Carlos Afonso Nobre e Antônio Rocha Magalhães alertaram para a urgência no corte nas reduções de carbono em todo o planeta e para a necessidade de políticas públicas de adaptação, enfrentamento e prevenção de problemas resultantes das novas condições climáticas.
Antônio Rocha Magalhães, que além de participar do IPCC é consultor do Banco Mundial para o Brasil, destacou as conseqüências do aquecimento global no Nordeste brasileiro. Ele defendeu a adoção de novas políticas públicas para aquela região que contemplem as mudanças climáticas. De acordo com estudos do IPCC, informou Magalhães, o Nordeste terá aumento do período de secas intensas e diminuição dos recursos hídricos, e o semi-árido poderá sofrer processo de desertificação. Ele disse que, apesar de o Brasil estar investindo há 150 anos em políticas para amenizar os efeitos da seca, a região ainda não alcançou a condição de conviver com a estiagem.
Com o objetivo de adaptação aos efeitos das mudanças climáticas, Antônio Magalhães sugeriu a integração de políticas de desenvolvimento sustentável no Nordeste, o fortalecimento das instituições para evitar a descontinuidade de políticas pelas mudanças de governo, e a adoção da "democracia participativa", com a criação de alianças em torno das políticas para que sejam permanentes e estáveis.
Segundo Martin Parry, professor do Centro de Estudos Ambientais no Colégio Imperial de Londres e coordenador do Grupo de Trabalho número 2 do IPCC - que elaborou o relatório sobre impactos, adaptação e vulnerabilidades ao aquecimento global - a redução precisa ser de 80% das emissões de carbono até 2015: "Precisamos de uma redução drástica no nível de emissão de gases prejudiciais à camada de ozônio", apontou Parry. Ele afirmou que o Brasil deve assumir uma posição de liderança na Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas e defender o percentual de 80% como meta de redução da emissão de gases pelos países, inclusive os Estados Unidos e a China, até 2050.
O percentual a ser aprovado pela conferência - que será realizada em dezembro de 2009 em Copenhague, na Dinamarca - será adotado no novo acordo sobre emissão de gases que provocam o efeito estufa. Esse acordo substituirá o Protocolo de Kyoto a partir de 2012. Na opinião de Parry, é necessário o estabelecimento da meta de 80% - e não a de 50%, como tem sido discutido por alguns países - para evitar os impactos mais prejudiciais ao ser humano, como a severa restrição de acesso à água.
O especialista explicou que, mesmo que as emissões de gases nocivas à atmosfera acabassem hoje, o planeta continuaria aquecendo, mas as conseqüências seriam mais facilmente absorvidas, com acréscimo menor que 2 ºC na temperatura. No entanto, com a manutenção das emissões de gases de efeito estufa, o aumento da temperatura do globo pode chegar a 4 ºC até o final do século. Um atraso de 10 anos em tomar qualquer medida já resultará no aumento de 0,5 ºC da temperatura média terrestre.
Parry alertou ainda que, no pior cenário - o de aumento de 4 ºC da temperatura global -, 45% das espécies vegetais amazônicas não vão resistir e serão extintas. Haverá queda na produção de grãos e risco do aumento da desnutrição, doenças infecciosas e problemas cardiorrespiratórios. Questionado pelo senador Inácio Arruda, autor do requerimento para a audiência, quanto à relação entre desenvolvimento e redução de emissão de gases, Parry destacou que há segmentos que não são sustentáveis e que os países devem começar a "desenvolver trilhas de desenvolvimento para garantir a vida no futuro", como as matrizes energéticas limpas e renováveis.
Para o pesquisador brasileiro Carlos Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Brasil pode contribuir com essa meta ao acabar com os desmatamentos. "Hoje o desmatamento é responsável por 55% das nossas emissões de gases de efeito estufa", disse Nobre. De acordo com o pesquisador, a agricultura é a segunda maior atividade responsável pelas emissões de gases na atmosfera. Ela representa 25% dessas liberações. Os 20% restantes estão ligados ao tratamento de resíduos e a atividades nos setores de energia e indústria.
Ele alertou que, se nada for feito, o aquecimento global vai transformar boa parte da Amazônia em savanas, que as áreas secas do país ficarão ainda mais secas, com desertificação no Nordeste, e as chuvas serão mais concentradas e muito mais fortes. Além disso, as cidades litorâneas vão sofrer com a subida do nível do mar, que, no cenário mais pessimista, pode chegar a um metro. "Na agricultura, sentiremos os impactos mais fortes. Em 50 anos, por exemplo, Santa Catarina não vai mais produzir maçã. As áreas cultiváveis para soja, cana-de-açúcar e café também não serão mais as mesmas”.
Embora as perspectivas para o planeta sejam preocupantes, o pesquisador do Inpe afirmou que o Brasil tem o maior potencial ambiental de usar os recursos naturais renováveis para alavancar o seu desenvolvimento em comparação com qualquer outro país do mundo. “Devemos explorar esse potencial usando isso como alavanca para o nosso desenvolvimento. O Brasil precisa escolher um caminho e pode se transformar em uma potência ambiental ou no primeiro país tropical desenvolvido”.
Assessoria de imprensa do gabinete

Esta matéria foi recebida por e-mail do gabinete do senador Inacio Arruda

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