quinta-feira, 26 de agosto de 2010

RESPOSTA À REVISTA VEJA

* **Sou professora do Estado do Paraná e fiquei indignada com a
reportagem da jornalista Roberta de Abreu Lima “Aula Cronometrada”. É com
grande pesar que vejo quão distante estão seus argumentos sobre as causas do
mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS razões que geram este panorama
desalentador. *



* Não há necessidade de cronômetros, nem de especialistas para
diagnosticar as falhas da educação. Há necessidade de todos os que pensam
que: **“os professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos
repletos de estímulos e inseridos na era digital”** entrem numa sala de aula
e observem a realidade brasileira. Que alunos são esses “repletos de
estímulos” que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais
inseridos na era digital? Em que pais de famílias oriundas da pobreza
trabalham tanto que não têm como acompanhar os filhos em suas atividades
escolares, e pior em orientá-los para a vida? Isso sem falar nas famílias
impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas
essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas
brasileiras. Está na hora dos professores se rebelarem contra as acusações
que lhes são impostas. Problemas da sociedade deverão ser resolvidos pela
sociedade e não somente pela escola. *



* Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha
infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era
inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos
professores e não cumprir as obrigações fossem escolares ou simplesmente
caseiras, faço comparações com os alunos de hoje “repletos de estímulos”.
Estímulos de quê? De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em
frente ao computador, alguns até altas horas da noite, (quando o têm),
brincando no Orkut, ou o que é ainda pior envolvidos nas drogas. Sem
disciplina seguem perdidos na vida. Realmente, nada está bom. Porque o que
essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e disciplina.
** *



* Rememorando, o que tínhamos nós, os mais velhos, há uns anos
atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria.
Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na
vida. Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais. Para
quê o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos
brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente
brincar com os amigos, de ir aos piqueniques, subir em árvores? E, nas
aulas, havia respeito, amor pela pátria.. Cantávamos o hino nacional
diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos ler, escrever e
fazer contas com fluência. Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série.
Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E
tínhamos motivação para isso.** *



* Hoje, professores “incapazes” dão aulas na lousa, levam filmes,
trabalham com tecnologia, trazem livros de literatura juvenil para leitura
em sala-de-aula (o que às vezes resulta em uma revolução), levam alunos à
biblioteca e a outros locais educativos (benza, Deus, só os mais corajosos!)
e, algumas escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até a passeios
interessantes, planejados minuciosamente, como ir ao Beto Carrero. E, mesmo,
assim, a indisciplina está presente, nada está bom. Além disso, esses mesmos
professores “incapazes”, elaboram atividades escolares como provas,
planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem remuneração;** *



* Todos os profissionais têm direito a um intervalo que não é
cronometrado quando estão cansados. Professores têm 10 minutos de
intervalo, quando têm de escolher entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o
cafezinho. Todos os profissionais têm direito ao vale alimentação, professor
tem que se sujeitar a um lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que
trabalhe 40 h.semanais. E a saúde? É a única profissão que conheço que
embora apresente atestado médico tem que repor as aulas. Plano de saúde?
Muito precário. Há de se pensar, então, que são bem remunerados... Mera
ilusão! Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa área, só
permanecem os que realmente gostam de ensinar, os que estão aposentando-se e
estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os
que aguardam uma chance de “cair fora”.Todos devem ter vocação para Madre
Teresa de Calcutá, porque por mais que esforcem-se em ministrar boas aulas,
ainda ouvem alunos chamá-los de “vaca”,”puta”, “gordos “, “velhos” entre
outras coisas. Como isso é motivante e temos ainda que ter forças para
motivar. Mas, ainda não é tão grave. Temos notícias, dia-a-dia, até de
agressões a professores por alunos. Futuramente, esses mesmos alunos, talvez
agridam seus pais e familiares. *



* Lembro de um artigo lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura
Castro, que dizia que um país sucumbe quando o grau de incivilidade de seus
cidadãos ultrapassa um certo limite. E acho que esse grau já ultrapassou.
Chega de passar alunos que não merecem. Assim, nunca vão saber porque devem
estudar e comportar-se na sala de aula; se passam sem estudar mesmo, diante
de tantas chances, e com indisciplina... E isso é um crime! Vão passando
série após série, e não sabem escrever nem fazer contas simples. Depois a
sociedade os exclui, porque não passa a mão na cabeça. Ela é cruel e eles já
são adultos. *



* Por que os alunos do Japão estudam? Por que há cronômetros? Os
professores são mais capacitados? Talvez, mas o mais importante é porque há
disciplina. E é isso que precisamos e não de cronômetros. Lembrando: o
professor estadual só percorre sua íngreme carreira mediante cursos,
capacitações que são realizadas, preferencialmente aos sábados. Portanto, a
grande maioria dos professores está constantemente estudando e
aprimorando-se. *



* Em vez de cronômetros, precisamos de carteiras escolares,
livros, materiais, quadras-esportivas cobertas (um luxo para a grande
maioria de nossas escolas), e de lousas, sim, em melhores condições e em
maior quantidade. Existem muitos colégios nesse Brasil afora que nem
cadeiras possuem para os alunos sentarem. E é essa a nossa realidade! E,
precisamos, também, urgentemente de educação para que tudo que for fornecido
ao aluno não seja destruído por ele mesmo** *



* Em plena era digital, os professores ainda são obrigados a
preencher os tais livros de chamada, à mão: sem erros, nem borrões (ô,
coisa arcaica!), e ainda assim se ouve falar em cronômetros. Francamente!!!*
* *



* Passou da hora de todos abrirem os olhos e fazerem algo para
evitar uma calamidade no país, futuramente. Os professores não são culpados
de uma sociedade incivilizada e de banditismo, e finalmente, se os
professores até agora não responderam a todas as acusações de serem
despreparados e “incapazes” de prender a atenção do aluno com aulas
motivadoras é porque não tiveram TEMPO. Responder a essa reportagem
custou-me metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigidas.*

Recebida por e-mail:
Colaboração: professor Gidnei Valente

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