segunda-feira, 12 de abril de 2010

CRÔNICAS DO COTIDIANO:


A GULA E OS NOSSOS PECADOS DE TODOS OS DIAS

Para Jacira

“A liberdade nos convida à sua mesa para nos

regalar com seus vinhos e suas iguarias;

e nós atendemos, mas bebemos e comemos

demais, e o banquete torna-se um palco

para a glutonaria e a vulgaridade, e o desprezo de si mesmo.”

(Gibran Khalil Gibran, poeta libanês)

“Todo desejo é um desejo de morte.”

(Possível máxima japonesa)

Fui instigado a fazer um texto sobre a gula, um dos pecados capitais. Segundo o Dicionário Luft, a gula é “vício de comer e beber demais; glutonaria.” Eu não sou guloso, mas o que tem de gente gulosa na sociedade... Quem vai contar?

O que sei é que quando me pego pensando nos pecados capitais, a primeira lembrança que me chega é do filme “Seven: os sete crimes capitais”, de 1995; a direção é de David Fincher, com ninguém menos que Morgan Freeman e Brad Pitt nos papeis principais. É a história de um serial killer que mata as pessoas seguindo a ordem dos sete pecados capitais. Dois policiais – Freeman e Pitt – o primeiro, maduro e prestes a se aposentar e o outro, jovem e impetuoso, seguem na captura. Suspense absoluto até o fim, um roteiro magnífico e muito bem elaborado, prende a atenção da gente até o final! Os “castigos” que o assassino impõe às pessoas foram muito bem pensados, bem como as razões do assassino – se é que esse tipo de assassino tem razão... Pensando bem: seria tão bom se assassinos em série existissem só nos filmes de ficção, não é mesmo?

A segunda lembrança é do ótimo livro “O Clube dos Anjos”, de Luis Fernando Veríssimo, de 1998. É o primeiro livro de uma série lançada pela Editora Objetiva, intitulada “Plenos Pecados”. Nesse livro, Veríssimo tece uma brilhante história em torno do pecado da gula, onde dez homens se entregam a esta afinidade animal, a fome em bando – sem temer a morte. Na verdade, a perspectiva de morrer só aumentaria, para eles, o prazer na comida, e o desafio filosófico da gastronomia: a apreciação que exige a destruição do apreciado. O humor genial de Veríssimo faz deste livro uma aventura tão envolvente como a amizade entre aqueles dez homens. Para quem gosta de uma boa leitura, os outros livros da coleção são: Luxúria: “A Casa dos Budas Ditosos”, do baiano João Ubaldo Ribeiro; Soberba: “O Voo da Rainha”, de Tomás Eloy Martínez; Avareza: “Terapia”, de Ariel Dorfman; Preguiça: “Canoas e Marolas”, de João Gilberto Noll; Ira: “Xadrez, Truco e Outras Guerras”, de José Roberto Torero; e Inveja: “Mal Secreto”, de Zuenir Ventura.

Eu confesso: tenho um pecado, o de ler muito. Por que tanta gente ainda não lê? Vivo me perguntando isso. A explicação mais convincente me foi dada pela escritora carioca Ana Maria Machado – premiadíssima! Sua obra para crianças e jovens está traduzida em 16 países. Ela recebeu todos os principais prêmios no Brasil e, em 2000, ganhou o prêmio Hans Christian Andersen, do IBBY (International Board on Books for Young People), considerado o Nobel da Literatura Infanto-Juvenil - no texto de apresentação do livro “Comédias para se Ler na Escola”, de Luis Fernando Veríssimo, também da Editora Objetiva, de 2001. Show de texto! Show de livro! Na orelha desse livro, encontramos essas palavras sobre esses dois grandes escritores brasileiros: “Para gostar de ler, eis a sugestão: textos curtos, fáceis, divertidos, escritos numa linguagem clara e parecida com a que a gente fala todo dia. Assim recomenda Ana Maria Machado. Assim são os textos de Luis Fernando Veríssimo. Com a experiência de quem já publicou 105 livros, para adultos e crianças, Ana Maria Machado examinou a obra de Veríssimo sob o ponto de vista do leitor jovem. O que ele busca? Por que nem sempre se apaixona por um livro? Do que precisa para, finalmente, incorporar o hábito da leitura ao seu cotidiano? Ana encontrou respostas sedutoras no texto de Veríssimo. Capaz de falar sobre qualquer assunto e a qualquer pretexto, o escritor revela suas obsessões, mergulha em lembranças solitárias de infâncias e adolescências, preocupa-se com o social e ético – encontrando sempre uma maneira nova de fazer isso, como se nunca o tivesse feito antes. A originalidade e o humor de Veríssimo funcionam, desta forma, como o melhor antídoto para quem não gosta de ler – ou melhor, para quem ainda não descobriu o prazer, a aventura, que um livro pode proporcionar.”

Pois é. Continuo achando que de todos os pecados, o da leitura é o melhor, e o que é menos danoso para o ser humano.

E para encerrar, como sempre faço, deixo essas palavras do Max Nunes:

RELATIVIDADE

EDUCAÇÃO – é aquilo que nos faz olhar o bife maior e tirar o menor.

CINISMO – é aquilo que nos faz olhar o bife menor e tirar o maior.

MISÉRIA – é aquilo que nos faz olhar o bife maior e o bife menor e não tirar nenhum.

GULA – é aquilo que nos faz olhar o bife menor e o bife maior e comer os dois.

(Max Nunes. O pescoço da girafa. São Paulo, Companhia das Letras, 1997)

Engraçado... Com tantos crimes atrozes sendo cometidos por aí, e eu fui escrever justo sobre esse pecado da gula?

Pois é... Isso me deu uma fome, uma vontade de comer sozinho uma caixa de chocolate, uma macarronada daquelas e uma pizza... Ai minha Santa Luzia!

(Márcio Melo, professor de História, estudante de Direito, leitor inveterado, daqueles gulosos, que “devoram” dois ou três livros por mês)

Mais textos meus, você encontra nesses endereços: www.webartigos.com.br e http://antoniogomeslacerda.blogspot.com (Para comentários, críticas, sugestões e otras cositas más).

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