sábado, 11 de abril de 2009

A obsessão do banqueiro Lula

O Tesouro Nacional, dono de 65% das ações, é o maior acionista do Banco do Brasil. Logo, o presidente Lula, comandante supremo do País, tem o direito de mandar no BB. É o que ele faz no caso da Petrobras, da qual a União tem apenas 32% do capital. Tanto que trocou o presidente do banco, Antonio Francisco de Lima Neto, por outro funcionário de carreira mais alinhado com o Planalto, Aldemir Bendine.


Por Milton Gamez




A Caixa Econômica Federal, além do BB, é uma arma poderosa do governo para reduzir o spread. Deve ser usada com responsabilidade
Não é assim que eles fazem com os papéis de outras empresas públicas e privadas, em que o controlador tem parcelas até menos significativas do capital? Desde que seus direitos de acionista sejam respeitados, tudo bem. São as regras do jogo. Ninguém é obrigado a investir nas ações do Banco do Brasil.
O banqueiro Lula está certo em sua obsessão pela queda dos spreads bancários. Só precisa tomar cuidado para manter o BB blindado contra o uso irreponsável. O tempo de bancos públicos cheios de esqueletos no armário já passou, como demonstra a própria gestão de Lima Neto. Nada indica que Bendine, com trajetória semelhante à do antecessor, vá mudar essa diretriz. O BB e os bancos estaduais, no passado, já foram espécies de máquinas de imprimir dinheiro, com impactos diretos no "custo Brasil" e na política monetária. O processo de saneamento, no governo FHC, incluiu até a intervenção no Banespa, um ícone dos paulistas que estava sob a administração de Mário Covas, aliado histórico e amigo de Fernando Henrique Cardoso. Esse ajuste culminou com a federalização das dívidas públicas estaduais, numa engenharia financeira e política que deu certo e teve papel primordial na guerra contra a inflação crônica do Brasil. Isso não pode ser esquecido.
O Banco do Brasil é uma poderosa arma do governo para ajudar a derrubar o custo do dinheiro no País, vergonhosamente um dos mais altos do mundo. Mas ninguém derruba juros por decreto. Fosse uma questão fácil, Lula já teria demitido Henrique Meirelles e colocado o vicepresidente José Alencar - o maior crítico da política monetária - no comando do Banco Central. A credibilidade do BC e a saúde do sistema bancário foram fundamenfundamentais para que o Brasil não afundasse na crise financeira global, como aconteceu nos anos 80 e 90 do século XX. O BB pode abrir mão de parte de seu lucro (R$ 8,8 bilhões em 2008) para ajudar a economia do País, desde que isso seja feito de forma responsável e mantendo a atratividade do papel para todos os acionistas. Segundo estudo do Ipea, o BB já pratica juros reais mais baixos nos empréstimos pessoais (25% ao ano) do que Itaú (63%), HSBC (63%), Santander (56%) e Citibank (61%). Mas esta não é única bala na agulha para derrubar o spread, a diferença entre o custo de captação de recursos e os empréstimos bancários.
O arsenal do governo contra o spread ainda tem muita munição. O Ibre, um think tank da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro, sugere algumas. Podem se fazer novas rodadas de redução de depósitos compulsórios dos bancos junto ao BC. Podem se cortar impostos sobre o crédito, a exemplo das reduções de IPI que já beneficiam a cadeia automotiva e a construção civil. O governo pode usar seu capital político para destravar a tramitação do projeto que cria o Cadastro Positivo no Congresso Nacional. Esse cadastro irá permitir a identificação dos bons pagadores pelo sistema bancário, o que certamente vai reduzir os juros finais para os clientes responsáveis. O Ibre sugere, ainda, que o governo use a Caixa Econômica Federal para induzir os concorrentes a praticar juros menores. Desde que mantenha sua saúde financeira, de forma transparente e com recursos previstos no Orçamento para isso, por que não? A CEF é 100% estatal e tem estatura no mercado para t ambém ajudar a puxar o spread para baixo. Eis uma boa ideia para o banqueiro Lula.

Extraído de: http://www.terra.com.br/istoedinheiro/edicoes/601/a-obsessao-do-banqueiro-lula-o-tesouro-nacional-dono-de-131245-1.htm

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