Antonio Machado
Bacia de Santos põe o Brasil na 1ª divisão dos países produtores e exportadores de petróleoDescoberta eleva de 22 para 34 anos tempo de uso das reservas, mas só depois de 2009 ou mais09.11.2007 - 17:14Antonio Machado
Não faltam motivos na economia e no social para o arrebatamento do presidente Lula, “vê-se em seu rosto, no brilho de seus olhos, que ele é o homem mais feliz deste país”, como constatou a atriz Fernanda Montenegro numa entrevista recente, definindo-o, segundo sua própria experiência, como um “ator de extraordinário carisma”. De muita sorte também - poderia ter acrescentado. Nesta quinta-feira, a Petrobras anunciou que os testes finais no campo de Tupi, na Bacia de Santos, comprovaram a existência de reserva explorável de 5 a 8 bilhões de barris de petróleo de qualidade, além de gás, o que alça o país no ranking dos grandes produtores no mundo. As reservas provadas eram até agora de 14,4 bilhões de barris, sendo que a maior descoberta, o campo de Roncador, na Bacia de Campos, em 1996, aumentara só 3 bilhões ao estoque. E de menor qualidade, chamado de “pesado”, que vale menos. Foi providencial a notícia para apagar o mal estar pelo recente anúncio de falta de gás e a suspensão de fornecimento ao Rio e São Paulo, barrada pela Justiça. O óleo de Tupi, segundo as primeiras avaliações, tem medida de 28 graus, numa escala em que quanto mais próxima do teto de 50 graus mais “leve”, portanto mais valiosa, é a sua qualidade. Do tempo em que o país importava quase todo o óleo que consumia, as refinarias da Petrobras estão aptas para processar o produto leve, mais comum nos produtores árabes, tradicionais fornecedores do país. É por isso que, embora produza cerca de 1,8 milhão de barris/dia, praticamente no nível do consumo, o país não seja auto-suficiente. Mistura parte da produção ao petróleo importado compatível com as refinarias e exporta o excedente, resultando um déficit na troca, que o campo de Tupi, quando estiver operacional por volta de 2009, permitirá reverter para superávit. E é só o começo. A descoberta faz parte de uma área de 800 quilômetros de extensão por até 200 de largura, indo do litoral do Espírito Santo a Santa Catarina, território no qual a Petrobras começou a mapear sozinha e em associação com sócios (em Tupi, por exemplo, está junto do BG Group, da Inglaterra, dono de 25% da concessão, e da Petrogal/Gap, de Portugal, com 10%). Até para um gigante como a Petrobras seria uma empreitada difícil fazer sozinha as explorações. A reserva encontrada em Tupi está a 6 quilômetros de profundidade - com 1,5 a 3 km de lâmina d’água e mais 3 a 4 km de uma espessa camada de sal. Tecnologia para tirar óleo a tamanha profundidade não é problema. A Petrobras é das poucas do mundo a deter know-how nessa área. O investimento é o limitador. Agora, com menos risco. Um choque para o bem “Os volumes estimados de óleo e gás para os reservatórios do pré-sal, se confirmados, elevarão significativamente a quantidade de óleo existente em bacias brasileiras, colocando o Brasil entre os países com grandes reservas de petróleo e gás do mundo”, diz a Petrobras em nota. Inshalá! O novo choque do petróleo, cujo preço quebra recordes um atrás do outro e tende a romper a formidável marca de US$ 100 o barril, para o mundo é motivo de preocupação. E para o Brasil se tornou a oportunidade ímpar de enriquecer. Gol de placa do país Para Lula, é a chance, que dificilmente perderá, de aparecer como autor do passe que leva a esse gol de placa, embora, na verdade, esteja nessa conquista o saldo acumulado de anos de pertinácia de vários governos, desde o do general Ernesto Geisel, em 1974. Não é um esforço nem de um só governo nem só da Petrobras, mas de todo o país, que se permitiu pagar o custo que resulta nessa vitória. 33 anos de óleo e gás As possibilidades abertas com a descoberta de Tupi impressionam. Ao nível das reservas conhecidas e do consumo atual, o país tinha petróleo para 22 anos até seu esgotamento. Com a incorporação da Bacia de Santos ao estoque, que aumentará 55% usando-se a medida de 8 bilhões de barris potenciais, o tempo de consumo se dilata para 34 anos. O país sai de 24º para 8º ou 9º no ranking global. Ou mais, se o renascido programa de álcool não for abandonado. E se o investimento na prospecção continuar em ritmo acelerado. O mínimo a dizer, como anunciou a ministra Dilma Rousseff, é que o Brasil foi para a primeira divisão entre os países exportadores. Muitas coisas vão mudar para melhor em relação ao país. No plano geoestratégico, o Brasil pode virar potência, e não só energética, mas isso se o governo não se inflamar e sair gastando por conta. Capitalizar o futuro Os resultados efetivos só vão aparecer depois de 2009, mas desde já o país pode capitalizar a riqueza potencial, se trouxer a valor presente os seus benefícios, praticando uma política econômica que seja coerente com o fim da dependência energética e a nova receita exportadora que virá daí. Cresce a importância do alerta - comum neste espaço -, sobre os efeitos negativos do capital volátil que incendeia a bolsa, mas deprime a rentabilidade das exportações. Com o petróleo potencialmente exportável, aí é que ninguém segura mais o real forte, anulando o parque industrial. Já houve exemplo disso no mundo, como na Holanda, país em que as descobertas do Mar do Norte fizeram explodir o florim, a moeda local antes do euro, tornando os holandeses importadores de tudo mais afora petróleo. Uma política econômica realizada desde já com o olho posto nesta benção potencial também poderia questionar o conceito da medida de risco país, que voltou a 200 pontos nessa mesma quinta-feira, isso pela crise financeira que não nos pertence, quando deveria ser no máximo 150 e tendendo para menos de 100 com a descoberta de Tupi.
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