OU: O PROVÁVEL ENCONTRO DESTA COM A REALIDADE (É PRECISO ESTAR ATENTO E FORTE!)
“Há os que vivem lamentando a opressão, eu morrerei denunciando-a.”
(Babeuf)
“Vivemos na ante-sala da Idade Mídia onde tudo se transfigura em alucinantes jogos de luzes. Tudo o que não repercute não é digno da atividade humana de pensar.”
(Washington Araújo, jornalista e escritor, em artigo no site Carta Maior, do dia 19/02/2010)
Senhoras e senhores! O espetáculo continua! Alguns colocam vendas para não ver, outros olham para o mar e outros ainda colocam fones nos ouvidos, para fingir que não estão ouvindo nada também.
O povo é culpado. Ou melhor, como diz o Edson Gomes: “O País é culpado”. E quem é que faz esse País? Nós, ora bolas! Vivemos num País em que o arcaico e o moderno, o local e o universal, o urbano e o agrário estão em constante simbiose. É uma loucura, um caos total! E o pior: ninguém sabe para onde ir... É por isso que nos meus textos a visão irônica e crítica do nosso País está sempre presente, é a tônica. Somos um País subdesenvolvido (que palavra antiga, argh!), tentando engolir a tecnologia e a contracultura dos países desenvolvidos e, ao mesmo tempo, não podendo encobrir a fome, a doença e o analfabetismo crônicos – para uns poucos, a Bélgica é mesmo aqui, mas para muitos, o Haiti é aqui!
Em termos de política externa, o Brasil hoje tem prioridade, em parte por causa da importância inerente da nation par excellence, em parte porque o Governo Lula avançou muito nas questões externas, no prestígio internacional. Nós estamos naquele grupo, o chamado BRIC – formado por Brasil, Rússia, Índia e China – que são os países emergentes mais importantes desse mundo globalizado, em crise desde 2008.
E no plano interno? E nós, como estamos? Para a maioria, o inferno é mesmo aqui, nos presídios de qualquer lugar, e nas periferias e favelas. Vivemos num País em que o Governo federal é dos trabalhadores (e no caso da minha Bahia também o governo estadual), onde vemos muitos trabalhadores sobrevivendo com a renda menor do que o salário mínimo... Isso é um paradoxo! Morar em Cuba seria melhor, mais estimulante! Esse Governo optou pela política tradicional, notadamente no que diz respeito à economia. Mas não podemos esquecer que ainda vivemos num Estado Democrático de Direito. Terrível dilema esse nosso, não? Que País complicado esse nosso, não? Eu ainda sou daquela corrente que acredita e luta por um outro mundo possível. Que sabe que, em vista do bem, é preciso “revolucionar o mundo existente.” Mas antes, vamos começar por nosso País. E para tanto, é preciso primeiro conhecê-lo...
O professor da USP Chico de Oliveira, autor de “Crítica à razão dualista”, tem um célebre estudo: “O ornitorrinco”. Resumindo de forma simplista, esse estudo mostra que o Brasil está na metade do caminho evolutivo, com características conflitantes entre o desenvolvimento e a mais absoluta desigualdade – daí o ornitorrinco, que não é nem mamífero, nem anfíbio.
Como cidadão, estou sempre insatisfeito, sempre indignado. Mas daqui a alguns meses, teremos eleições. Seremos enganados de novo, pois os cães continuarão mordendo! Um filósofo já disse que as eleições são armadilhas para os tolos. No nosso País a cultura tem vida curta e a ignorância permanece. Veja o que estão fazendo com o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3): estão desconstruindo-o todo, só por medo de perder as eleições! Danem-se os direitos humanos! É preciso ganhar as eleições primeiro! É preciso uma grande dose do que às vezes se chama de ignorância intencional para não ver isso. Essa cegueira geral deve ser incentivada, se é que se deseja que a violência do Estado siga o seu curso e cumpra com a sua função. O cantor Belchior já tinha alertado sobre isso numa música lá em 1979: “Ah, quanto rock dando toque, quanto blues, e eu de óculos escuros, vendo a vida e o mundo azul.”
Mas como sou adepto do Mestre Paulo Freire, ainda nutro a esperança de ver uma educação libertadora, porque educação que obriga é terrível – a escola por si só já é uma obrigação dura de engolir! E só com educação se muda um País. Foi assim com TODOS os países desenvolvidos, e com a gente não será diferente, a menos que inventemos algo melhor que a educação - coisa que acho impossível.
Tem remela no olho quem acabou de acordar de um sono profundo procurando uma luz... Como aquele que tateia, cambaleante, tentando encontrar o interruptor no meio da noite para ir ao banheiro... Eu já estou acordado faz tempo, iluminado por um astro maior que me aquece por completo e que não me fornece uma luz temporária para tão somente atender às minhas necessidades primárias.
Sejamos francos! Vamos acordar! É louvável reclamar, protestar e até mesmo espernear, mas vamos recorrer aos meios legais para exigir os nossos direitos! Não adianta nada uma minoria protestar, quando muitos não estão nem aí para a luta! Enquanto alguns poucos estão lutando por um meio ambiente ecologicamente equilibrado, a maioria não está preocupada nem com as coisas mais básicas do cotidiano, como jogar o seu lixo pessoal na lixeira, por exemplo. Precisamos reconhecer os nossos problemas e encará-los de frente e de forma real. O discurso precisa ser claro e coerente, para ser válido. E além do mais, toda crítica está sujeita a outra crítica. Basta lembrar que qualquer um de nós está propenso a ser um Zé Dirceu, um Genoíno, um Valério, ou um Arruda. É, o poder corrompe mesmo, amigo/a.
2009 não apresentou grandes novidades ou esperanças maiores sobre o que poderemos esperar em 2010... O que o Brasil precisa é de muitos algozes do discurso hipócrita, que é conivente ou que apoia esse status quo reinante. Porque é gente hipócrita que atravanca o nosso desenvolvimento! Quem está no poder acha sempre que é inteligente e que a população é que é sempre idiota, medíocre... O Brasil pode até parecer mesmo com um circo, mas daí achar que todo mundo é palhaço... Ás vezes acho que do jeito que as coisas vão por aqui, chegará o dia em que a esperança sairá correndo, desesperada, com medo de viver por essas praias e florestas! Citando Rubem Alves: “Zaratustra dizia haver chegado o tempo para que o homem plantasse as sementes de sua mais alta esperança.” Genial, não é?
Finalizo mais esse reles manifesto. Sim, pois quem sou eu para querer mudar algo com a minha escrita? A escrita não muda nada, apenas ajuda àqueles que lêem a possibilidade de pensar um pouco na ideia de morder o ar, morder as pedras, ou mesmo estreitar laços no sentido de se pensar na justiça que se há de fazer...
Fique com essa boa letra da música de Paula Toller e George Israel, “Eu tou tentando”:
Eu tou tentando largar o cigarro
Eu tou tentando remar meu barco
Eu tou tentando armar um barraco
Eu tou tentando não cair no buraco
Eu tou tentando tirar o atraso
Eu tou tentando te dar um abraço
Eu tou penando pra driblar o fracasso
Eu tou brigando pra enfrentar o cagaço
Eu tou tentando ser brasileiro
Eu tou tentando saber o que é isso
Eu tou tentando ficar com Deus
Eu tou tentando que Ele fique comigo
Eu tou fincando meus pés no chão
Eu tou tentando ganhar um milhão
Tou tentando ter mais culhão
Eu tou treinando pra ser campeão
Eu tentando ser feliz
Eu tou tentando te fazer feliz
Eu tou tentando entrar em forma
Eu tou tentando enganar a morte
Eu tou tentando ser atuante
Eu tou tentando ser boa amante
Eu tou tentando criar meu filho
Eu tou tentando fazer meu filme
Eu tou chutando pra marcar um gol
Eu tou vivendo de roquenrol
Mais uma música que é a cara do Brasil!! Eu estou no time da Esperança, e você?
REFERÊNCIAS
Site Carta Maior. Acesso em 19/02/2010.
Rubem Alves, Entre a ciência e a sapiência, São Paulo, Edições Loyola, 1999.
DVD Kid Abelha: Pega vida ao vivo, Universal Music, 2005.
(Márcio Melo, professor, estudante universitário, pai, filho, flamenguista e um besta que ainda acredita que, nessa peleja, a Esperança irá vencer o Medo)
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