terça-feira, 9 de junho de 2009

35º aniversário do código de barra reaviva nos EUA a esperança em tecnologia redentoras

A mudança que provoca rupturas econômicas é sempre um todo: vai de equipamentos a programas e processos
08.06.2009 - 18:50
O 35º aniversário de uma tecnologia revolucionária, mas ao mesmo tempo praticamente imperceptível, embora tenha mudado para sempre o jeito de as pessoas interagirem com as compras e o lazer de cada dia, reavivou a esperança nos EUA de que artefatos inovadores vão surgir a tempo de redimir a economia e pontificar um recomeço.
Ao longo dos anos, especialmente nos EUA depois da II Guerra, tem sido assim nos momentos de bonança, eventos que atingem velocidade de cruzeiro por razões da gerência da economia, e se degeneram por excessos financeiros, monetários ou fiscais. Mas surgem no rastro de inovações que fazem a diferença, como a luz elétrica no início do século passado, o motor a combustão, a penicilina e a internet.
Nada disso veio num estalo como resultado do esforço solitário de cientistas, conforme a literatura de ficção, mas em camadas - e há muito mais na fila para acontecer. Também não se trata de invenção pura, sem aplicação comercial, e sim artefatos e processos capazes de matar uma indústria e criar outras totalmente novas sobre ela.
Foi o que aconteceu em 26 de junho de 1974, há 35 anos este mês, em Ohio, quando uma máquina leitora de código de barra estreou no caixa de uma das lojas da rede de supermercados Marsh. O mundo da indústria, comércio e serviços nunca mais foi o mesmo.
Hoje, tal invento parece trivial de tão ubíquo: está presente em toda loja de autoatendimento, em supermercados, em farmácias, nos tickets de cinemas e shows, nos cartões de embarque de aviões, em documentos de identidade, na conferência de contêineres, controle de estoques. O database marketing vem daí. Bilhões de dólares em escala progressiva no tempo acompanharam a dispersão do invento.
Antenado com as mudanças profundas na estrutura dos negócios que a crise econômica vai tornando inexorável para muitas atividades, John Gapper, editor de negócios do jornal inglês Financial Times, pressente o que está por vir.
As mudanças já se delineiam para o setor automobilístico, em resposta à miséria das montadoras de Detroit, e na área de energia, refletindo a onda verde que varre o mundo e a inviabilidade econômica e geopolítica da dependência das duas grandes potências industriais, EUA e China, de petróleo importado.
No caso do código de barras, segundo Gapper, somente nos EUA, e apenas no setor de supermercados, a economia anual trazida pela tecnologia é estimada em US$ 17 bilhões. Passa do trilhão a sua aplicação em toda a economia nos EUA e se multiplica mundo afora.
Simplicidade ilusória
A mudança que provoca rupturas econômicas é sempre um todo: vai de equipamentos a programas e passa por processos. Não há como um movimento com tais características deixar de impactar a economia.
“O código de barras é um desses pedaços da tecnologia dos EUA que são enganosamente simples, mas produzem grandes benefícios graças à combinação da padronização com os recursos da computação”, diz Gapper, que, pragmático, não se preocupa com a entrada da General Motors na oficina para revisão completa. Outras empresas estavam também no leito de morte e conseguiram reerguer-se como Lázaro.
Quem voltou da morte
Pegue-se o caso da Apple, que perdia dinheiro a rodo até que os acionistas foram buscar em casa o seu fundador Steve Jobs para lhe devolver a vida. Não há crise para ela - nem agora. Ou da IBM, que também teve seu momento dinossauro como a GM.
A IBM não saía das páginas dos jornais como candidata à falência ou a ser engolida por rivais menores, tipo então a Microsoft. Sob a direção de Louis Gerstner, um ex-consultor da McKinsey, que a dirigiu de 1993 a 2002, quando se aposentou, a IBM se reinventou.
O ex-dinossauro pôde esquecer fracassos como o do PC, que lançou e largou sem antes dar à Microsoft o trampolim para se tornar um gigante graças ao sistema operacional DOS, base do Windows, rodado em seus computadores de mesa.
Novíssimo mundo novo
Ignorar o efeito revolucionário dos equipamentos, processos e das viradas incríveis de grupos moribundos sobre o desenvolvimento é uma falha dos analistas - e maior em tempo de crise do crescimento coincidente com a maturação de engenhos de ruptura que podem zerar fracassos empresariais e econômicos. Já há sinais.
Nos EUA o motor elétrico vai tomando forma para sacudir Detroit. A Toyota anunciou no Japão o primeiro caminhão com motor a diesel e bateria elétrica do mundo. A Intel vai lançar chips nano, minúsculos e poderosos. A crise real será a de quem não acompanhar o novíssimo mundo novo.
Inovação sem espaço
A taxa de mudança tecnológica, segundo Patrick Knox, especialista em transformações de ruptura para investidores, está se acelerando em todo mundo, em especial na computação, na energia e medicina.
O mercado financeiro e de capitais, diz, ignora as oportunidades porque se distrai com o curto prazo, e sabe que a taxa de retorno da tecnologia matadora compensa mesmo quem chega atrasado.
Investidores podem esperar. Mas governos e empresas não se podem dar esse luxo. No Brasil, os grandes investimentos têm sido em indústrias antigas e em setores produtores de commodities, sem espaço para a inovação.
O risco é o cavalo selado passar e, outra vez, ninguém correr para montá-lo.

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