Alta mensal de 14,1% eleva capitalização total nos 52 maiores pregões globais para US$ 34 trilhões
18.05.2009 - 18:27
A economia global continua em ritmo de velório, mas as bolsas de valores, cujas ações negociadas teoricamente representam a saúde empresarial, estão como viúvas alegres - indiferentes à tristeza dos indicadores de produção, consumo e emprego no mundo.
Em abril, pela métrica de valor de mercado, a capitalização das ações em todas as bolsas do mundo, 52, da emblemática New York Stock Exchange à inexpressiva de Teerã, passando pela brasileira Bovespa, cresceu impressionantes US$ 4,2 trilhões, o maior aumento num único mês na história dessa vitrine do capitalismo, segundo os dados da World Federation of Exchanges, a associação do setor.
O aumento bateu em 14,1%, elevando a capitalização de mercado de US$ 29,8 trilhões em março para US$ 34 trilhões. Em março, subira 3,6%, interrompendo o mergulho livre em que vinha há mais de um ano. Em fevereiro, a queda chegara a 7,4% sobre janeiro. É de dar água na boca para quem tem dinheiro disponível e coração forte.
Até onde vai a atual onda altista, que a mídia nos EUA simbolizou como os primeiros “brotos verdes da primavera”, é incerto. Nestes dias, por exemplo, um conjunto de indicadores sofríveis sobre a economia dos EUA, da China, Japão, Alemanha, França, entre outros, trouxe o mau humor de volta aos pregões, inclusive à Bovespa.
Aqui, no rastro da Bolsa de Nova York, que emula com precisão de relógio suíço, o índice que monitora o preço das ações superou a marca dos 50 mil pontos no começo da semana, e depois está no vai-não-vai. Mas foi o suficiente para atrair as atenções e apostas.
O mundo, e não só aqui, dá uma boiada por fragmentos de indícios de que a crise chegou ao fundo do poço e daqui em diante seria só correr para o abraço. À luz do desempenho das grandes economias os tais mercados despertaram muito cedo para as esperanças de tempos melhores. O PIB da zona do euro desabou 2,5% no primeiro trimestre sobre igual período de 2008.
Na mesma base, o PIB da Alemanha caiu 3,8%; o da Inglaterra, -1,9%; da França, -1,5%; Espanha, -1,8%.
O desemprego na União Européia passa de 20 milhões e não sinaliza que vai parar, nem sequer desacelerar. Na Espanha o desemprego vai a 17% este ano e tende a passar de 20% em 2010.
O desemprego é o desaguadouro das crises econômicas, e pode seguir crescendo mesmo quando a produção dá sinal de reversão. Em que ponto da trajetória se encontra a economia global? Difícil saber.
Especulação faminta
Parece que o pior já passou, mas tal crença era forte nos EUA até que o desempenho do comércio em abril voltou a frustrar, depois de três meses com pequenas altas. Os investidores se apegam a sinais assim, na expectativa de saltar na frente e maximizar os ganhos.
A fome por lucros financeiros tem o tamanho da pobreza africana. A riqueza perdida nas bolsas, porém, não é menos colossal, e nem repentes altistas, como o de abril, são suficientes para resgatar os prejuízos. A capitalização da Bolsa de Nova York cresceu 12,2% sobre março, mas ainda está 39% menor que em abril de 2008.
A soberba da banca
O preço das ações, como medida de valor, pode até voltar ao que era no pré-crise, mas com liquidez miudinha. A máquina de inflar riqueza financeira, movida pelo crédito bancário multiplicado por doses maciças de emissão de títulos de dívida, quebrou.
E, se for para levar a sério a manifestação dos governos do Grupo dos 20 - das maiores economias do mundo -, por regulamentação estrita dos mercados, não voltará a bombar como antes. Mas nada disso ocorreu.
Pior: depois que os grandes bancos dos EUA passaram pelo teste de estresse, muita gente em Wall Street já diz que não precisa mudar nada, basta um aperto nos derivativos e pôr o FMI para escriturar os fluxos financeiros, como forma de satisfação ao G20.
É só jogo e emoção
Seja como for o caminho de volta das bolsas aos recordes de 2008, além de escarpado, continua distante. A capitalização de mercado da Bovespa cresceu em dólares 17% em abril. Mas ficou 48% menor em dólares em relação a abril de 2008 e 31% em reais.
O fechamento da Bovespa na sexta-feira a 49 mil pontos foi 34% maior que o último mínimo, em setembro de 2008 (36,6 mil pontos), e 32% menor que o recorde absoluto, em maio (72,5 mil pontos). E isso quando muitos apostavam que fecharia 2008 a 90 mil pontos.
Sandice? Tanto quanto quem projetasse em outubro de 2002 que a Bovespa cresceria 750% no governo Lula até o início da grande crise. Bolsa é pura emoção.
CPI de resultados
A capacidade de a oposição no Senado conseguir reunir e manter os votos necessários para abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras, apesar da pressão em contrário, abalou o governo. O presidente Lula enxerga motivações eleitorais.
Ele pôs o pré-sal a serviço da candidatura da ministra Dilma Rousseff. A contrarreação dos oposicionistas foi consequencia.
Um senador petista que tentou apaziguar os ânimos acha que há algo mais. Lula estaria tendendo a aprovar medidas, especialmente na área trabalhista, que contrariam interesses que o apóiam desde 2002. A CPI seria um meio de baixar a sua bola e inserir a oposição nestes “diálogos” sensíveis.
Extraído de: http://cidadebiz.oi.com.br/paginas/48001_49000/48337-1.html
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