segunda-feira, 13 de abril de 2009

Demissão no BB foi mal recebida e deixa ressabiada burocracia das áreas mais técnicas

Percepção é que o desejo de baixar spread e vitaminar candidatura de Dilma são questões interligadas

12.04.2009 - 19:36

Antonio Machado

As razões da queda do presidente do Banco do Brasil, Antonio Lima Neto, e a participação mais ativa da ministra Dilma Rousseff nas decisões de política econômica à medida que se assume candidata à sucessão presidencial em 2010 são questões interligadas - e assim interpretadas por empresários, políticos e a burocracia das áreas monetária e fiscal, a mais poderosa do funcionalismo.

Lima Neto perdeu o cargo devido à “obsessão” do presidente Lula, conforme ele próprio, com a redução do spread bancário, a margem adicionada pelos bancos ao custo do dinheiro tomado emprestado ao investidor. Lima Neto, como a ministra explicitou em reunião com um grupo de sindicalistas, resistiria a tal objetivo.

“Nós não aguentamos mais ter de discutir com os presidentes dos bancos públicos, que estão pensando que são presidentes de bancos privados”, disse ela, segundo um dos sindicalistas. Tradução: que se preocupam com os resultados da instituição estatal, não com os objetivos do governo, que podem não ser estritamente públicos.

De fato e de direito, o BB não é um banco público. É uma empresa de economia mista, já que de capital aberto, com ações em bolsas e milhares de acionistas - grande parte os próprios funcionários por meio do fundo de pensão, a Previ, virtual controladora do capital.

Para Dilma, banco público não pode ter “lucro real de 20% a 30% ao ano, porque, senão, perde a razão de existir”. Em função dessa norma o ministro da Fazenda, Guido Mantega, impôs ao sucessor de Lima Neto, Aldemir Bendine – outro funcionário de carreira, mas considerado mais leal ao PT que à instituição -, um “contrato de gestão” de conteúdo não explicitado. Provavelmente, será voltado à ampliação do crédito com menos condições e custos mais baixos.

Como resultado eleitoral, a “obsessão” de Lula pode ser eficaz. A imagem da ministra, porém, começa a ser reavaliada. Ou avaliada. É que, disciplinada e submissa à liderança de Lula, nunca revelou o que pensa sobre a política monetária, as metas de inflação, câmbio flutuante, carga tributária, iniciativa privada – coisas assim, do cerne do funcionamento da economia e, verdadeiramente, definidoras da orientação política do candidato. Dilma está sendo observada. Dilma sai à chuva

Não que isso seja relevante. Na oposição, Lula atacava “tudo isso que está ai”. Depois de eleito, governou com o quê? Com “tudo isso que está aí”. Com Dilma pode ser igual. Ou não. Ela tem de dizer.

É o que fez ao ouvir Mantega, crítico de Lima Neto, e avalizar a sua demissão junto a Lula. É também o que está fazendo ao assentir com conselhos da direção do PT e se aproximar do que é chamado de “movimentos sociais”.

Ela já discutiu sobre aliança, campanha e plano de governo com o PC do B e PSB. Mas não com o PMDB. Nem com o empresariado, que tem pouco voto, mas tem capital e pode ajudar a eleger ou dificultar uma candidatura. Tudo está sendo observado.

Candidato enigma

A diferença gritante é que Lula já demonstrara seu estilo e suas preferências como sindicalista, à frente do PT, como candidato, e foi conquistando as simpatias e confiança, enquanto Dilma, exceto por sua militância de gerente do PAC – que mais expõe uma aplicada gestora que um gênio político -, e contra o regime militar, quando foi presa e torturada, é um enigma.

Em seu trato com subordinados e dirigentes de órgãos do governo, fala-se que é dura e ríspida. Se isso é qualidade ou defeito, falta apurar. Lula também não é um doce de pessoa com os auxiliares. Mas disfarça bem em público.

Pressão tem limite

Imagem é a grande bússola de um governo que melhor que qualquer outro faz da comunicação a peça de resistência de seu mandato. As sondagens de popularidade de Lula e avaliação do governo indicam queda, o que é coerente com os tempos de crise.

As últimas, porém, chocaram por revelar queda de 10 pontos em três meses, enquanto a subida para índices de aprovação acima de 70 pontos se deu em três anos. O aperto sobre a burocracia vem daí, mas também pela inércia habitual, que Lula deixou correr e se vê sem tempo para mudar. Mas as pressões têm limites.

Os quadros mais técnicos de primeiro escalão estão ressabiados. A diretoria da Petrobras, por exemplo, decidiu congelar seus salários por um ano. Gesto simbólico de alto teor. Dela Lula cobra mais do que pode entregar. Assim tem sido em outras empresas e bancos estatais. A demissão no BB pegou mal. Se repetirem a dose, a candidatura de Dilma poderá sair arranhada.

Coordenação medíocre

A contradição, e são tantas, é que o governo que sabe comunicar-se como ninguém às vezes parece titubear na frente econômica menos pelo que suas áreas fazem ou deixam de fazer e mais pela medíocre coordenação das expectativas empresariais, hoje o dado relevante a definir o tamanho da desaceleração e continuidade do investimento.

Das percepções do mercado financeiro o Banco Central cuida bem. A área sindical é especialidade de Lula. A base aliada... Bem, é só liberar emendas ao orçamento que ela se acerta. E a economia real, alicerce da economia? É ouvida sem influir. Se estivesse ao lado, sua tranqüilidade faria mais bem à economia que qualquer obsessão.

Extraído de: http://cidadebiz.oi.com.br/paginas/47001_48000/47922-1.html

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