quarta-feira, 25 de março de 2009

Para grandes empresários, a crise passa logo, mas faltará gás para reaver já o tempo perdido

Embora confiantes, eles começam a rever dimensão dos planos de ampliação, sobretudo para exportações

24.03.2009 - 20:08

Antonio Machado

Vão melhorar ou piorar as coisas daqui para frente? A depender da expectativa empresarial, considerando a opinião média dos chamados pesos-pesados, piora muito mais nos EUA - onde começa a pintar um quadro de recessão longa, com mais dois a três anos de ajuste. Na Europa será mais profunda que em outras regiões.

No Brasil a crise perde força mais cedo, mas levará tempo para que a economia retome o impulso anterior e volte ao nível do terceiro trimestre de 2008.

A constatação que se dissemina é que o país foi apanhado por dois choques:

1º, o do colapso do crédito nos EUA, que se espalhou pelo mundo, com impacto recessivo sobre as maiores economias;

2º, o dos juros, elevados pelo Banco Central a partir de abril de 2008, para esfriar o consumo devido ao ricochete da inflação, quando estavam visíveis os sinais de deterioração dos mercados, e não só nos EUA. A miopia foi geral, aqui e no mundo. A lentidão para agir, não.

O primeiro choque já seria uma pancada na economia pelo canal da exportação e do crédito, segundo tais avaliações. Esse impacto foi amplificado pela demora na reversão do arrocho monetário, já que o BC estendeu até janeiro o início da inflexão da Selic.

Para tais empresários formadores de opinião, a agilidade do BC não evitaria a chegada da crise ao país, mas ela teria sido menos agressiva.

Vários deles, e são poucos, o presidente Lula consulta com alguma freqüência para ampliar a percepção sobre os problemas da economia além do quadro que recebe dos ministros, especialmente da Fazenda, Guido Mantega, e do Banco Central, Henrique Meirelles.

Eles acusam a responsabilidade de Meirelles, mas falam de Mantega com frieza.

De um governo com 37 ministérios, e mais uns quatro dirigentes de estatais com status maior que o de ministro, apenas dois nomes são unânimes nos elogios: o da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, ambos pela capacidade de trabalho e disposição de resolver quaisquer problemas.

Esses empresários continuam confiantes na economia, sobretudo em relação ao resto do mundo, mas estão revendo a dimensão dos planos de ampliação, especialmente para o mercado externo.

Alguns começam a acionar planos de aumento da produtividade, tanto para preservar a taxa de retorno de seus empreendimentos como para tomar mercados da concorrência e sair na frente ao menor sinal de fim da crise.

Tempos de darwinismo

Se o governo atentasse para tais movimentos, lideraria um esforço nacional de preservação energética, um dos itens de custo de maior peso sobre o ciclo de investimento encerrado, e trataria de tomar medidas para destravar o crédito bancário.

Não por eles, que estão à frente de empresas capitalizadas, mas pelos de menor porte, elos seguintes das cadeias de produção ou satélites de grupos maiores.

É no encadeamento ou no entorno setorial que a aversão a risco da banca mais preocupa. Uma onda de desemprego ainda não aconteceu, a rigor. As demissões em massa já praticadas foram mais preventivas, originando-se nas grandes empresas.

O desemprego que ameaça é o de setores intermediários da economia, cuja correlação com a situação das médias e pequenas empresas - as maiores empregadoras do país - é elevada, além de mais frágeis em tempos de darwinismo econômico.

Seqüelas dos atrasos

Lula não parece insensível para o problema. Não satisfeito só com as medidas propostas pelos seus assessores, tem pedido a grupos de empresários sugestões para destravar o crédito. O Iedi, Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, foi um dos acionados para oferecer idéias.

Fato é que os desdobramentos sobre o emprego e a confiança serão piores quanto mais demorar a volta da produção à normalidade, ainda que em níveis inferiores aos de 2008. E, por extensão, à candidatura de Dilma Rousseff à sucessão de Lula.

Nós de Serra e Aécio

As atenções do empresariado de ponta se voltam para o pós-crise, misturando-se os cenários econômicos com a sucessão presidencial. O senso é que a crise favorece o governador José Serra e desgasta a imagem de Lula. Mal resolvida seria a reticência do governador Aécio Neves.

Um conhecedor de ambos diz que Serra teria ir a Aécio dizer que só sai candidato com seu apoio, convidá-lo a coordenar a candidatura, fazer do choque de gestão mineiro um dos alicerces da campanha e garantir ao colega influência sobre certas áreas de um eventual governo tucano.

O lulismo, assim, dependeria da involução da crise, e o tucanato, da razão e sensibilidade de suas estrelas.

Consenso empresarial

O capital não ganha eleição, mas pode fazer a diferença em pleito acirrado, como tende a ser a sucessão de Lula. Sem as seqüelas da crise, que reabre questões da economia empurradas por Lula, Dilma estaria tranqüila, com o empresariado procurado apenas para ajudar nas despesas.

O vento mudou. Antigos problemas, como do custo do crédito, reclamam solução imediata. A questão fiscal voltou. Nada disso tem resposta sem consenso empresarial. No Congresso a chance de acordos se estreitou.

Os tumultos políticos abismam a sociedade e abespinham os empresários, aparentemente menos disposto a passar a mão na cabeça de políticos e fingir que não é com eles também.

Extraído de: http://cidadebiz.oi.com.br/paginas/47001_48000/47710-1.html

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