quinta-feira, 12 de março de 2009

Juro cai para 11,25%, menor taxa da história da Selic

12 de março de 2009

PARA EVITAR A RECESSÃO


No mais ousado corte desde novembro de 2003, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu ontem acelerar a queda dos juros e reduziu a taxa básica em 1,5 ponto percentual, cortando a Selic de 12,75% para 11,25% ao ano. Pressionado pelo agravamento da crise econômica, o BC agiu pela segunda vez desde a piora na crise, a partir de setembro, e optou pela maior redução em quase seis anos quando a taxa, que serve de sinalização para todos os juros cobrados na economia, havia caído de 19% para 17,5% ao ano.

A Selic agora volta ao nível de setembro de 2007, o menor patamar desde que foi adotada como taxa de referência. Mesmo assim, o Brasil continua no topo do ranking das altas taxas do mundo: em relação aos juros reais (descontada a inflação), o país continua com a maior – 6,51% ao ano.

Divulgada na terça-feira, a forte desaceleração da economia no último trimestre do ano passado – 3,6% –, que ampliou os temores de uma recessão, pesou na decisão do BC, recebida com apoio por alguns segmentos empresariais e criticada por trabalhadores e outros dirigentes que esperavam corte maior. Outro motivo que determinou a redução do juro foi a queda da inflação nos últimos meses.


Em gráfico, confira a evolução da taxa de juros no país
e o impacto da redução em seu bolso

De acordo com o governo, a posição da diretoria do BC foi uma demonstração de sintonia com as ações de enfrentamento da crise e o melhor antídoto para reverter as expectativas pessimistas alimentadas pela redução da atividade econômica.

– Quando o Banco Central toma uma atitude como essa mostra um afinamento total com o governo – disse uma fonte do Planalto.

A sintonia parece tão ajustada que até mesmo a interpretação do comunicado do Copom ganha coerência quando o assunto é a forma de posicionamento da diretoria do BC.

– Foi uma medida forte, sem dúvida. E o comunicado permite a leitura de que o Meirelles (Henrique Meirelles, presidente do Banco Central) está dizendo que não se sente obrigado a fazer cortes de 1,5 ponto percentual mais uma vez – comentou essa fonte.

Preocupação com recessão foi decisiva para fixar o novo índice

No comunicado, o BC reafirma que o foco da ação da política monetária é o controle da inflação. E deixou claro que o Copom irá acompanhar a evolução dos preços e os impactos dos cortes já realizados para avaliar o comportamento da meta de inflação, fixada em 4,5% este ano. A decisão sobre os juros foi tomada de forma unânime pelos oito membros da diretoria.

O corte que não surpreendeu o governo não se trata, segundo um interlocutor de Lula, de uma interferência direta na autonomia do BC. Mas é fato, também, que a conversa de Lula com Meirelles e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na terça-feira à noite no Palácio do Planalto, deu o tom do grau da preocupação do presidente com as medidas para retirar o país da rota de uma recessão.

Ninguém revela o conteúdo da conversa, mas Lula sempre deixa passar nessas conversas “o clima e a sua percepção” sobre o que está acontecendo, bem como sobre o que poderia ser feito. Entre as fontes, prevalece uma explicação simples: “se o presidente Lula mandar o Meirelles baixar os juros e ele, Meirelles, não atender, só resta ao presidente demiti-lo. Por isso, tudo é feito com sutileza”.

Ontem, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, rebateu a afirmação de que o governo subestimou a crise e afirmou acreditar que o Brasil terá crescimento positivo em 2009. Bem mais política, Dilma criticou a oposição ao condenar a criação de um gabinete de crise:

– Quem faz o acompanhamento da crise é o governo inteiro. Isso é a visão do apagão, que você tinha uma crise de energia e fizeram um gabinete de crise. E querem reproduzir isso sempre.

Na contramão dos dados sobre a desaceleração da economia, foi divulgada ontem alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação usado como meta pelo BC. Subiu em fevereiro, ficando em 0,55%, após aumento de 0,48% em janeiro.

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