terça-feira, 6 de maio de 2008

Servidão e conveniência



Será mesmo que o bem comum haverá de estar sempre subordinado à máxima do presidente do PMDB, Michel Temer (SP), segundo a qual “no Brasil ninguém governa sem o PMDB”?
Levando em conta as alianças recém-celebradas em São Paulo, talvez não seja exagero emendar aquela assertiva com a locução “tampouco se elege”.
Lula, essa raposa política cada dia mais felpuda, que o diga. Ou o governador paulista José Serra, doravante aliado a ninguém menos que o capo do PMDB em São Paulo, Orestes Quércia, a quem o PSDB penhorou a vaga de candidato a senador por São Paulo nas eleições de 2010, em troca do apoio à candidatura do prefeito Gilberto Kassab (DEM) à reeleição, em detrimento de seu colega de partido Geraldo Alckmin.
É verdade que Quércia, político de notável currículo, chegou a ser cortejado também por Alckmin e Marta Suplicy, mas acabou rendendo-se aos encantos de Serra, com quem estabeleceu uma espécie de parceria de longo prazo e a provável cessão de alguns cargos na administração.
Muita gente, acreditando que esse tipo de realpolitik é necessária para impedir a volta da petista Marta Suplicy ao governo da capital de São Paulo, apóia a ligeira manobra, provavelmente as mesmas pessoas que condenam a adesão de Lula à mais hiperbólica forma de fisiologismo político de que se tem notícia “neste País”.
José Serra usou a prefeitura de São Paulo como trampolim para o governo do Estado, embora houvesse assinado e registrado em cartório a então solene promessa de cumprir o mandato até o final; apoiou, contra a vontade geral, a prorrogação da CPMF, e a eleição, apesar da candidatura do deputado tucano Gustavo Fruet, do petista Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara, além do projeto de Nelson Jobim da PEC 12, a Proposta de Emenda Constitucional que significará, na prática, um calote nos detentores de precatórios.
Segundo a Folha de S. Paulo, a Receita Federal detectou notas fiscais frias na campanha de Serra à Presidência da República em 2002, o que os representantes do PSDB negam.
Quando surgiu a denúncia dos gastos com cartões corporativos por integrantes do governo paulista, que movimentaram R$ 108 milhões em 2007, Serra afirmou que não havia gastos secretos em São Paulo - "A diferença é que aqui não existe conta secreta; aqui o secretário de Estado não tem cartão". Estas despesas não apenas existem como estão previstas em lei, e, de 2003 até 2007, somam R$ 28, 602 milhões. Ninguém mais tocou no assunto dos cartões paulistas, talvez em reciprocidade à fidalguia da oposição na CPI dos Cartões, feitiço que acabou se virando contra o feiticeiro: foram reveladas despesas irregulares do deputado Paulo Renato de Souza (PSDB-SP) que, à maneira de Lula, disse candidamente que “não sabia” que gastos daquele tipo não poderiam ter sido espetados na conta do Tesouro nacional.
Antes de o Brasil conquistar o almejado grau de investimento, José Serra não perdia uma oportunidade de atacar o que dizia ser o câmbio fora do lugar e a política dos juros, pregando a revisão da “política macroeconômica”. Também não é segredo que a maioria do governador de São Paulo na Assembléia Legislativa impede o andamento de qualquer CPI, o que lhe confere o título de aplicado discípulo de Lula no quesito obstrução de investigações indesejáveis.
É desconfortável saber que a principal alternativa a Lula e ao lulismo em 2010 leva mais em conta nos cálculos políticos a própria conveniência do que o interesse geral.
Luiz Leitão
luizmleitao@gmail.com
http://detudoblogue.blogspot.com

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