América Latina - Latin America
DEFESA@NET 07 Dezembro 2007Palácio Planalto 06 Dezembro 2007
Palácio Planalto
Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no encerramento do Encontro de Governadores da Frente Norte do MercosulBelém-PA, 06 de dezembro de 2007
Meus queridos companheiros e companheiras do estado do Pará,Meus queridos governadores que estão aqui representando os países da América do Sul e os países que compõem o Mercosul,Meus companheiros governadores brasileiros da região Norte,Meus companheiros prefeitos,Meus companheiros deputados estaduais e deputados federais,Companheiros secretários municipais, secretários estaduais,Meus amigos e minhas amigas,Como sempre, quando fazemos um evento, a nominata termina sendo muito grande. E como todos já falaram o nome de todo mundo aqui, Chacho, falando o nome do Chacho, nosso companheiro que é a nossa figura importante do Mercosul, estarei falando o nome de todos os companheiros e companheiras que estão aqui. O Chacho é argentino, mas é torcedor do Corinthians, então é um sofredor como eu.Companheiros e companheiras,
Primeiro, quero falar um pouco do Mercosul e falar um pouco da nossa América do Sul.Meus companheiros representantes dos países da América do Sul, eu tive a felicidade de, em 1990, convocar – se eu não falei dos senadores, eu quero cumprimentar os senadores aqui presentes – eu tive o prazer de convocar a primeira reunião da esquerda na América Latina, em 1990. Eu tinha terminado a eleição de 89, nós tínhamos saído muito fortalecidos do processo eleitoral e era preciso, então, fazer um chamamento a todas as organizações de esquerda que militavam na política da América Latina, para que pudéssemos começar a estabelecer uma estratégia de procedimento entre a esquerda da América Latina.Eu me lembro, Chacho, como se fosse hoje, era época da Copa do Mundo de 1990, e a reunião foi feita em São Paulo, por isso é que ficou constituído o Foro de São Paulo. Só da Argentina tinha 13 organizações políticas, 13 grupos de esquerda que não conversavam entre si. A única coisa que os unia era o Maradona, naquele momento. A República Dominicana, que é um país pequeno, tinha 18 organizações de esquerda naquele encontro. Parecia, Ana Júlia, o PT.Foi uma reunião muito difícil porque as pessoas não confiavam em si, cada um desconfiava do outro, cada um era mais revolucionário do que o outro, cada um era mais guerrilheiro do que o outro. E era preciso, então, criar um ponto de equilíbrio para fazer as pessoas entenderem. Eu descobri isso nas eleições de 89, que era possível, com um pouco de organização, o povo chegar ao poder em qualquer país do mundo e em qualquer país da América do Sul.Pois bem, passados esses 18 anos, ou melhor, vamos pegar 14 anos atrás. Nós fizemos uma pequena revolução democrática na América do Sul e na América Latina. Eu, por exemplo, conheci o (Fidel) em um encontro que fizemos em Cuba. Tinha acabado de ser preso por conta do golpe e acabado de ser liberado. Conheci o Chávez em um encontro do Foro de São Paulo, como conheci também o Daniel Ortega, como conheci tantos companheiros da Argentina, do Chile, do Uruguai, do Paraguai, da Bolívia, do Equador, da Venezuela, da Colômbia. Qual é a mudança que houve nesses 18 anos? Olhem o mapa da América do Sul hoje. O que aconteceu na América do Sul é um fenômeno político que, possivelmente, os sociólogos levarão um tempo para compreender por que aconteceu tão rápido a mudança que houve, uma mudança extremamente importante. Eu lembro que quando o companheiro Duhalde – eu ganhei as eleições de 2002 e o primeiro país a visitar foi a Argentina – falou assim para mim: “Lula, eu vou eleger”... o Menem estava se metendo a ser candidato outra vez, e não sei mais quem, tinha até corredor de automóvel que ia ser candidato na Argentina. E o Duhalde falou: “Lula, nós vamos eleger aqui o Kirchner”. Eu perguntei: quem é Kirchner? Ele falou: “É o governador de Santa Cruz. Ele não é conhecido aqui em Buenos Aires, mas nós vamos elegê-lo”. Pois bem, seis meses depois o Kirchner era presidente da Argentina. Depois foi um processo, com Tabaré; depois foi um processo, com Nicanor Duarte, no Paraguai; depois foi um processo no Equador, que não deu certo no primeiro momento, mas deu certo no segundo momento, com Rafael Correa. O Chávez era o único presidente até então existente, na América do Sul, com cara progressista, com compromissos efetivos com o povo mais pobre. E hoje nós vemos que o que aconteceu na América do Sul está se espraiando para a América Central e para a América Latina, em quase todos os países. Na Guatemala, acaba de ganhar um companheiro, muito companheiro nosso, que participou do Foro de São Paulo. Nós vamos ter eleições agora em El Salvador e, certamente, ganhará um companheiro da Frente Farabundo Marti as eleições para a presidência de El Salvador, pelo menos é o que as pesquisas estão indicando. A eleição no Panamá foi um avanço extraordinário, com o companheiro Torrijos, e assim nós estamos avançando. Há um mapa exatamente antagônico ao mapa que existiu de 1980 a 1990, ou ao ano 2000. Quando o povo teve oportunidade, na América do Sul, ele fez uma guinada completa, ele trocou o neoliberalismo pelo que tinha de mais avançado em políticas sociais em todos os países da América do Sul, e está acontecendo, agora, na América Latina.Isso é uma coisa, companheiro Chacho, que nós ainda não aprofundamos. Lógico que quando ganhamos as eleições de um país, a nossa primeira preocupação é com os problemas internos do nosso país, e nós temos problemas sérios em cada país para enfrentar. Muitas vezes ainda não adquirimos a dimensão do que é um processo de integração, e é um pouco sobre isso que eu queria falar aqui hoje.O Brasil é o maior País da América do Sul. É a maior extensão territorial, tem a maior economia, é o maior em população, é o maior em PIB. Portanto, recai nas costas do Brasil a responsabilidade de levar em conta as assimetrias existentes na nossa relação da América do Sul.O Brasil, em segundo lugar a Argentina, e em terceiro lugar a Venezuela, em quarto lugar a Colômbia, apenas para dar alguns exemplos, nós temos a obrigação de estabelecer uma estratégia, não de querer fazer uma competitividade em igualdade de condições, mas de ajudar os países mais pobres a ter uma relação conosco em que a vantagem possa ser desses países menores. Nós não podemos imaginar que vamos fazer a integração se os brasileiros se queixam quando a gente compra o arroz produzido no Uruguai. Nós não fazer integração... Obviamente que também não podemos prejudicar os nossos produtores de arroz. Então, cabe ao Estado criar políticas compensatórias para que a gente possa permitir um preço competitivo para o nosso produtor. Mas nós não podemos proibir.Nós temos que trabalhar para industrializar países como o Paraguai, países como a Bolívia. Nós temos que seguir, inclusive, o exemplo da União Européia. O que fez a União Européia, quando resolveu se juntar? Quanto de dinheiro a Espanha recebeu? Quanto de dinheiro Portugal recebeu? Quanto de dinheiro a Grécia recebeu? Quanto de dinheiro ele estão colocando agora, na Europa do Leste? Sabem por quê? Porque não é conveniente, num processo de integração, você ter países fronteiriços com problemas de miséria muito grandes, com diferenças de desenvolvimento muito grandes. A inteligência nos mostra que se a gente ajudar esses países a se desenvolverem, o que vai acontecer? Eles vão gerar mais empregos, mais riquezas, mais consumidores, e a troca comercial entre nós compensa os investimentos que nós fizemos.É por isso que eu nunca vacilei, e estava em época de eleição quando o Evo Morales quis nacionalizar o gás dele e eu disse: “O gás é do Evo, ele está correto de nacionalizar. O gás é um instrumento, é uma matéria-prima, e é a única coisa que a Bolívia tem”.E por que nós fizemos isso? Quando o presidente Nicanor reclama da relação Brasil-Paraguai, com relação a Itaipu, nós temos que compreender que embora o contrato seja justo e legal, não pode ter uma relação igualitária entre Brasil e Paraguai. O Brasil tem que fazer concessões, porque a economia do Paraguai é muito pequena diante da economia do Brasil. O que vale para eles com importância, para nós muitas vezes não vale nada. O que são 100 milhões para o Brasil? Nada. Para o Paraguai é uma importância extraordinária. E o Brasil precisa ter isso em conta. Os deputados, Rosinha, têm que ter isso em conta, os senadores têm que ter isso em conta. Essa é uma coisa grave na nossa relação. Não havia experiência dessa relação de integração. Sempre houve a experiência de um país pujante como o Brasil, de um país pujante como a Argentina, com parceiros mais fracos. Portanto, era quase a lei do cão, ou seja, toda a vantagem para os países mais ricos. Não pode. Definitivamente, nós não faremos integração assim. Nós faremos, no máximo, uma belíssima relação pessoal, política, mas integração, em que o povo de cada país possa ver naquilo a possibilidade da evolução dele, da melhoria da vida dele... Senão, o que acontece? Ficam, de um lado, os países achando que a Argentina é um país imperialista. De outro lado, os companheiros da Bolívia olham para o Brasil e tratam-no como imperialista; do outro lado, os companheiros do Paraguai olham o Brasil e tratam-no como imperialista. Obviamente que tem que ser assim, porque nós não fazemos aquilo que tem que ser feito em política internacional. Nós temos que ceder para esses países menores poderem crescer, e esse crescimento deles será bom para o Brasil e será bom para a Argentina, será bom para os dois países.Normalmente, um presidente fica chateado quando vai a um país e percebe que o país dele é visto como um adversário, sobretudo o Brasil. As pessoas vêem o Brasil com uma dimensão extraordinária, e as pessoas estão sempre esperando que, a cada reunião, o Brasil ceda em alguma coisa. Eu acho que o Brasil não tem que ceder porque, em uma relação soberana, ninguém cede nada. Mas nas negociações nós temos que ser generosos, nós temos que compreender que uma boa relação comercial não é aquela em que eu vendo mil e compro dez. Essa relação é uma relação asfixiante para os países menores. Uma boa relação é aquela em que eu vendo mil e compro 900, ou eu vendo 900 e compro mil, para que haja um certo equilíbrio entre os países, porque senão nenhum país exporta. Essa é uma coisa, meu caro Chacho, em que nós precisamos evoluir de forma extraordinária.Eu me lembro que nós queríamos importar água do Uruguai, e eu me lembro que a nossa Anvisa criou tanto obstáculo, fez tanta exigência, que eu acho que a exigência da Anvisa era para que tivesse uma qualidade, na água do Uruguai, que nem Jesus Cristo tinha bebido quando passou pela Terra. É uma loucura. Muitas vezes, em vez de facilitamos, criamos obstáculos. Um dia desses, eu sou pego com uma notícia de que nós iríamos fazer uma ponte na fronteira com o Paraguai. Já perceberam que as pessoas só querem fazer ponte quando o vizinho é pobre? Se fossem os Estados Unidos, estaria todo mundo escancarando a porta, mas como é o Paraguai, a Bolívia, nós vamos fazer um muro. Mas, que muro! Qualquer muro que seja feito será o muro da vergonha, qualquer muro, por menor que ele seja. Numa relação comercial, da mesma forma que tem liberdade para transitar os produtos, tem que ter liberdade para transitar a coisa mais importante nas nações, que é o povo da América do Sul. Nós temos que transitar livremente, sem obstáculos.De vez em quando querem que eu brigue com o Chávez. Cada coisa que eu falo é uma manchete negativa. Se nós, governantes, políticos e a imprensa aprendêssemos que a coisa mais nobre numa relação internacional é o respeito às decisões soberanas de cada país... Cada país decide o que é bom para si, cada país decide a sua moeda, cada país decide a sua política industrial, cada país decide o seu regime político. De vez em quando a gente pensa que pode dar palpite em tudo, de vez em quando a gente pensa que pode dizer “os países têm que ser todos iguais”. Não somos um caminhão de melancia. Somos países com culturas diferentes, somos países com histórias diferentes, conquistas de independência em datas diferentes, colonizadores diferentes. Então, se nós não respeitarmos as tradições históricas e culturais de nossos países, também não terá integração. E como nós não queremos mais ser colonizados, nós queremos apenas que deixem a vida nos levar, como diz o Zeca Pagodinho, deixem a vida nos levar que nós saberemos construir a nossa democracia, nós saberemos fortalecer a nossa economia. Há quantos anos, na América do Sul, as economias dos países não cresciam o tanto que estão crescendo agora? Há quanto tempo não se gerava a quantidade de empregos que se gera agora? Há quanto tempo o povo não vive como está vivendo agora? É isso o que conta.Na Venezuela o Chávez se elegeu, continuou; eu me elegi aqui; agora se elegeu Cristina Kirchner; logo, logo tem eleições no Uruguai; logo, logo vai ter eleições na Colômbia; logo, logo vai ter eleições no Paraguai. O que nós queremos? Nós não podemos dar palpite sobre quem a gente quer que seja eleito. A gente só tem que torcer para que o voto seja a possibilidade de eleger o melhor para aquele país, não o melhor para nós, mas o melhor para aquele país. Eu estou convencido de que essa reunião que vocês estão fazendo aqui, Chacho, é um passo importante, porque a integração só entre os presidentes é uma coisa difícil. Nós nos encontramos duas ou três vezes por ano e, quando nos encontramos, os nossos especialistas produziram os documentos. Muitas vezes a gente nem lê os documentos antes de chegar à reunião. Ninguém, nem eu, nem Kirchner, nem Chávez, ninguém lê. A gente pega o documento na hora, e não tem discussão política. Mas, quando vocês começam a se reunir, os governadores começam a se reunir, a gente começa a criar o Parlamento. E eu acho que logo, logo, as centrais sindicais vão ter que criar uma central da América do Sul, uma central do Mercosul, nós vamos ter que criar entidades dos países que compõem o Mercosul, porque é isso que vai dar a sustentação de uma combinação entre a discussão macroeconômica de cada país, a discussão comercial, e a complementação – que não é secundária, é prioridade – que é o resultado das políticas sociais para ajudar o povo mais pobre dos nossos países.A terceira coisa que eu acho extremamente importante, companheiros, é que nós temos um problema hoje no mundo, e um problema na América do Sul, que é o problema de energia. Nós temos um problema de energia sério, na América do Sul. A Argentina tem problemas, o Chile tem problemas, a Bolívia, que tem muito gás, tem problemas, o Brasil, que tem muita energia hídrica, tem problemas, o Equador, certamente, tem problemas. Eu fui agora à Nicarágua. A Nicarágua precisa de 750 megawatts, e ela só tem 450. Tem sete horas de apagão por dia. Está lá com uma termelétrica que o Chávez emprestou, daquelas bem usadas, que gasta mais óleo diesel do que se nós fizéssemos uma nova. Então, o Brasil, a Venezuela e a Argentina têm que chamar o Daniel Ortega e falar: “Daniel Ortega, nós vamos financiar para você uma hidrelétrica”, alguma coisa que possa gerar recursos, que possa definir, de forma estruturante, uma saída.O que eu acho, Chacho? Nós precisamos levantar o potencial hídrico da América do Sul. Certamente, nós teremos mais de 300 mil megawatts de potencial hídrico na América do Sul. Se nós tivermos competência de construir as hidrelétricas, respeitando a questão ambiental, Marina, – estou vendo o Basileu ali, presidente do Ibama, me olhando feio –, se a gente respeitar as regras ambientais, a gente vai poder, ao construir a hidrelétrica, construir linhas de transmissão. Como nós somos um continente dividido, pelo meio, pela Linha do Equador, significa que nós vamos ter momentos de chuva num grupo de países, numa época do ano, e momentos de chuva em outros países, em outra época do ano. Portanto, nós poderemos fazer a transferência de energia... Eu estou vendo aqui o pessoal da Eletronorte, da Eletrobrás aqui, ou seja, você vai poder fazer uma integração energética.Por que Brasil e Argentina não fizeram aquela binacional ainda? Eu propus ao Evo Morales: vamos fazer uma binacional no rio Madeira? Nós vamos fazer a nossa, vamos fazer uma com você, do seu lado. Vamos construir, vamos fazer um projeto adequado e ver o que é possível. E você sabe que de peixe eu entendo, Marina. De bagre, Basileu, você fala comigo, que eu entendo.A Bolívia – aqui tem um companheiro boliviano – eu estou indo à Bolívia dia 16. O que eu quero conversar com o Evo é o seguinte: não basta ter gás, é preciso extrair esse gás, e é preciso que tenha investimentos. Eu vou lá com a proposta de que a Petrobras vai fazer investimentos. Se a Petrobras não fizer investimentos, vai faltar gás para o Brasil, para a Argentina, para o Chile, e vai faltar gás para a Bolívia. Não adianta ter uma mina de petróleo embaixo de você, se você não tem como tirar. Então, quem tem tecnologia precisa socializar essa tecnologia e ajudar os outros países a se desenvolverem. Essa é a lógica que tem que permear o Mercosul.O Peru, meu caro vice-governador do Amazonas, o Peru... o Peru, não, o Equador sonha com um transporte fluvial entre Manaus e o Porto de Manta. Eu falei para o meu amigo Rafael Correa: no ano que vem eu vou a Manta para anunciar que a gente vai construir esse meio de transporte entre o Brasil e o Equador.Nós falamos, Chacho, em integração. Se o Rafael quiser vir para o Brasil e não tiver um avião, ele tem que ir para Miami para vir ao Brasil. Imagine que loucura! Na década de 90 todos os países que tinham empresa aérea venderam, e todo mundo só queria voar para Nova Iorque. É, todo mundo só quer voar para Nova Iorque, Londres, Frankfurt, Roma, Madri. Ninguém quer voar para o Equador, ninguém quer voar para a Bolívia, ninguém quer voar para a África. As pessoas só querem ir no “bem-bom”. As pessoas só querem comer carne argentina ou uruguaia, não querem comer carne de bode.Eu tenho dito para os meus companheiros que eu tenho mais três anos, não sei quanto tempo tem o Chávez, o Rafael Correa tem mais quatro anos, o Evo tem mais três anos. Nós precisamos apressar esse processo de integração. E, aí, eu queria pedir a compreensão do Parlamento aqui, Rosinha. Nós temos um problema, que é o seguinte: o tempo dos presidentes é diferente do tempo do Parlamento. Nós vamos e fazemos um acordo, esse acordo tem que passar pelo Parlamento. Às vezes, o acordo precisa ser para ontem, e demora oito meses, nove meses, um ano, um ano e meio.Eu conto esse caso sempre: eu tomei posse, e o presidente Wade, do Senegal, me liga e fala assim para mim: “Presidente Lula, vai vir uma praga de gafanhoto na semana que vem e eu precisava de uma aviãozinho. Eu sei que o Brasil tem o avião Ipanema, de primeira qualidade. Eu queria o avião e queria pesticida para matar esses gafanhotos”. Eu falei: vai ser a minha primeira obra internacional. Fantástico! Chamei o ministro Celso Amorim e falei: Celso, vamos mandar o avião Ipanema, vamos comprar, custa... Sei lá quantos centavos que custa aquilo lá, vamos comprar. Vocês sabem o que aconteceu? Demorou seis meses, porque eu tive que mandar para o Congresso Nacional. Aí, quando o aviãozinho chegou, já tinham comido o milho do coitado. Vocês sabem que nós fomos educados a ser pobres. Então, um país da potência do Brasil e da potência da Argentina, a gente não tem o hábito de contribuir com os outros, a gente só quer que os outros contribuam conosco. Nós não temos um fundo em que a gente possa ter 50 milhões de dólares ou 100 milhões de dólares para, numa hora de aperto, numa hora de calamidade, mandar uma ajuda, não tem isso. Porque nós sempre fomos tratados como pobres, nós só queremos que os outros nos ajudem.E nós, gente, não construiremos a integração se a gente não der esse passo extraordinário. Nós temos que construir as rodovias que nos interligam, temos que construir as ferrovias que nos interligam, temos que ter interligação em telecomunicações, temos que fazer as pontes que precisa.Vocês vejam um negócio: em 500 anos de relação com a Bolívia, a primeira pontezinha feita no estado do Acre foi feita no meu governo. Só passa um carro. Mas já tem uma ponte, antes não tinha. Agora já passam dois carros. A primeira ponte na região Norte do País, com o Peru, foi no meu governo. Lá em Assis Brasil, no estado do Acre, estamos construindo essa interoceânica, ligando o Brasil ao Pacífico e o Pacífico ao Atlântico.Agora vamos fazer, se Deus quiser, o presidente da França vem ao Amapá e nós vamos, finalmente, ser o primeiro país da América do Sul a ter uma fronteira com a Europa, com a França. Eu já estou aqui pensando nos vinhos que o Waldez vai me dar de presente, já estou pensando. Eu vou até pedir para alguém chique me dar o nome de um vinho chique, para mandar empurrar para a secretária do Waldez. E eu falo: “Eu não gosto de vinho, a minha mulher é que gosta”, então ele manda um melhor ainda.Bem, então eu quero dar os parabéns, companheira Ana Júlia, por essa reunião realizada aqui, na região Norte do País. Quero, do fundo do coração, agradecer aos governadores dos países irmãos que vieram aqui. E, certamente, vocês sairão agradecidos pelo carinho que vocês receberam do povo do Pará, que é um povo singular, neste País, no tratamento com as pessoas.Terminada essa parte internacional... Eu fico numa dúvida, porque se eu “hablo espanhol, ustedes no entienden”, se eu falo em português, eu tenho medo de que todos eles não entendam. Mas, como a maioria aqui fala português, eu coloquei em votação e, então, só falo em português aqui.Mas, agora, terminando essa parte internacional, eu queria falar um pouco do resultado apresentado pelo Gilberto Câmara, do Inpe, e falar das coisas que a Marina disse aqui. Primeiro, eu fico feliz com os números apresentados, Marina, muito feliz. Mas fico triste porque poderíamos fazer mais, temos condições de fazer mais e podemos fazer mais.Agora, nós não vamos fazer, Marina, enquanto ficar nas nossas costas, lá em Brasília, cuidar de 8 milhões e meio de quilômetros quadrados e 360 milhões de hectares de floresta da Amazônia. Nós não vamos. Nós podemos ter a fotografia do momento, nós poderemos ter não sei o quê, mas é humanamente impossível, se a gente não envolver o poder local para assumir responsabilidade como nós.Tem duas coisas, Marina, que nós temos que fazer. Primeiro, nós temos que dizer, em alto e bom som: neste País tem empresário sério na agricultura, tem empresário sério em fábrica de madeireira, que fazem as coisas corretas, honestas, pagam seus impostos e fazem as coisas certas. Nós temos que salvaguardar esses e mostrá-los, porque a sociedade tem que saber que em tudo tem coisa boa e coisa ruim. E tem aqueles que são predadores, aqueles que não respeitam a lei, aqueles que não respeitam a autoridade. Para esses tem que ter o bastão do Estado em cima deles, para aprenderem a respeitar as leis aprovadas pelo Congresso Nacional. Então, Marina, eu quero dizer para você o seguinte: tanto para combater o trabalho escravo, quanto para diminuir as queimadas, eu quero que no começo do ano, Basileu, vocês preparem o mapa dos municípios onde existem queimadas, que eu vou convocar os governadores dos estados, vou convocar os prefeitos das cidades, vou convocar os vereadores ou os presidentes das Câmaras, se for necessário eu convoco o pastor e o bispo, se for necessário eu convoco o dirigente sindical, porque nós precisamos fazer uma gestão compartilhada e responsável. Se for necessário – eu vou te avisar de público, aqui – se for necessário, colocamos um delegado da Polícia Federal em cada município. Se for necessário, colocaremos um delegado da Polícia Federal, junto com o Ibama, em cada município. Não é possível que as pessoas não estejam entendendo o que está acontecendo no Planeta, e que nós poderemos ganhar dinheiro sendo legais. Nós poderemos ganhar muito mais dinheiro fazendo a coisa correta, poderemos ganhar muito mais se a gente utilizar corretamente o manejo da floresta, se a gente souber preservar, se a gente souber replantar. Nós temos que ter consciência de que a Amazônia não é apenas o pulmão do mundo como eles dizem, a Amazônia é a possibilidade de nós andarmos de cabeça erguida diante da Europa e dos Estados Unidos, que hoje querem preservar a Amazônia depois de devastarem toda a sua floresta, toda, sem nada, e de serem responsáveis por 70% da emissão de gases de efeito estufa. Nós queremos fazer parcerias com eles também, mas não queremos que levantem o dedo para nós. Você vai para Bali agora, eu sei que você é guerreira, vai muita gente boa. Discutir, sim, dialogar, sim, mas aceitar desaforos, jamais. A Amazônia é nossa e, com virtudes e defeitos, nós vamos cuidar dela. E aquela proposta que você apresentou em Nairobi, Marina, tem que voltar a ser apresentada em Bali. Eu estou cansado de ver país que não tem... Eu ando de helicóptero nesses países também, minha filha. Eu vinha no avião, agora, e falei para Marisa: “Bote a cabeça na janela aí, para você ver” – não a cabeça para fora, porque ela seria sugada – olhe pela janela do avião e veja se em algum país do mundo, por onde eu viajei, a gente consegue andar uma hora só vendo essas árvores extraordinárias? É tudo careca, tudo careca, não tem nada. E quando tem árvores, é tudo igual, é tudo igual. Então, eu acho, Marina, que a sua proposta de Nairobi deve voltar a ser apresentada com mais força. Aliás, já falei no discurso da ONU: nós vamos preservar. Agora, os países ricos precisam colocar a mão no bolso e pagar aos países pobres que preservam as sua florestas. No mais, querida, eu queria terminar com uma mensagem para a minha governadora Ana Júlia. Ana Júlia, você sabe que eu acompanho, por ossos do ofício, a imprensa do Brasil inteiro e dos estados. E eu sei que, muitas vezes, as pessoas estão jogando nas suas costas uma carga que você não deveria receber. Você está há apenas 11 meses no governo, você não fez sequer o seu primeiro orçamento ainda, você está trabalhando o orçamento aprovado no outro governo, as prioridades definidas ainda não são as suas. Você pode perguntar para quem é governador, aqui: o primeiro ano sempre é o mais difícil. Qual é a vantagem do primeiro ano? É que a gente tem capital político no primeiro ano. Acabou se ser eleito, então você pode gastar um pouco do capital político fazendo as coisas que precisam ser feitas, mesmo aquelas que podem descontentar alguém, porque no segundo ano você não tem mais capital político. No segundo ano, você vai começar a queimar a expectativa que gerou na população desse estado para fazer as coisas, e o povo começa a cobrar. E é bom que o povo cobre. Nunca fique chateada que o povo cobre, esse povo te elegeu porque os outros não permitiram que os cobrassem, e eles queriam uma companheira, no governo, para eles poderem cobrar de você. Agora, eu queria que você aprendesse uma lição, querida Ana Júlia: não se permita ficar nervosa com ataques. Você não tem que provar nada para ninguém agora. Você tem que provar para as pessoas é no final do seu mandato. Governar é como fazer um prato de comida. Se você tem uma criança pedindo comida, estão as panelas em cima do fogo, e você pega só o arroz, põe no prato, bota para a criança e pergunta: “está bom”? Ela vai dizer: “Não”. Aí você bota um pouquinho de feijão e mostra: está bom? “Não”. Aí você vai lá, bota uma saladinha, bota uma carnezinha, e ela fala: “Está bom”. Então, governar é construir o projeto para o qual você foi eleita, e você está no começo. É como se você tivesse plantado um pé de fruta. Não adianta plantar e ficar sentado do lado: “Nasce, nasce”. Só carrapicho nasce assim, coisa ruim. Coisa boa, demora. Então, eu quero que você não tenha pressa, vá aguando, vá botando uma aguinha, bota um adubozinho e você vai ver que, logo, logo, vai brotar e logo, logo, o povo vai começar a comer os frutos daquilo que é o projeto que te elegeu para este estado. Quero te dizer, minha querida companheira, que nos momentos bons em que você tiver que fazer festa aqui, não precisa me convidar, porque a dona Marisa não me deixa vir. Agora, nos momentos difíceis, se você precisar, eu quero que você saiba que você tem lá em Brasília, não um presidente, mas um companheiro seu para lhe ajudar em todas as horas.Muito obrigado e boa sorte a todos vocês.
Essqaa materia nos foi enviada por Maria Helena Rubinato, colaboradora do Blog do Noblat em O Globo
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