8/11/2007 02:34:00
Alex Martins, Carol Medeiros e Flávia Salme
Rio - Enquanto milhares de alunos se preparam para as provas finais e já fazem a matrícula de 2008, a um mês do fim do ano letivo alguns estudantes da rede estadual ainda não sabem se vão conseguir concluir seus estudos. Durante todo o ano, eles não tiveram aulas de várias disciplinas porque não há professores. O retrato do caos na Educação está nos boletins — no lugar das notas dos três bimestres, lacunas ou a sigla SN (sem nota).
Pais e alunos não escondem a revolta. “Desde fevereiro, há mais tempos vagos que aulas. Assim ninguém aprende”, lamentou Eleonora Hermínio Abreu, 36, mãe de Eloá e Iara, 10, da 5ª série do Ciep Gal. Ladário Telles, em Belford Roxo, que não têm aulas de Geografia e Artes. “Não dá para ver o ano acabar sem uma solução para isso”, exigiu a dona-de-casa Eliane Gasparello, 41. Seu filho, Marcos Henrique, não teve lições de Português.
“Sou péssima em Geometria e até agora não temos professor”, denuncia Anne Marcelle Lima, 17, da 5ª série do Colégio Oswaldo Ornelas, em São Gonçalo, onde também não há aula de Inglês. Em outra escola do município, o Ciep Pablo Neruda, a turma do 6º ano vive mesmo drama. “Desde o começo do ano não temos aula de matemática, artes e atividades complementares. Minha mãe pagava R$ 30 por mês para eu ter aula de reforço. Mas o dinheiro não deu. O jeito é ficar sem aprender a matéria", resigna-se Cristian Santos Monteiro, 14.
Ainda em São Gonçalo, alunos do Ciep Pablo Neruda se juntam à turma dos que sofrem com a falta de professores. “Passo a semana tendo aula só no primeiro tempo. Entro às 13h e saio às 14h30. Minha mãe dá bronca, acha que matei aula. Mas quem faltou foi o professor”, critica Luan dos Santos Pacheco, 14 anos. Aluno da 5ª série, Luan diz que não há docentes de Matemática e Artes desde o começo do ano. O colega de turma Cristian Santos Monteiro, 14, se junta ao protesto. “Minha mãe pagava R$ 30 por mês para eu ter aula de reforço de Matemática. Mas o dinheiro não deu”, lamenta. No Ciep Alaíde de Figueiredo Santos, na mesma cidade, faltam notas em dois bimestres de Matemática.
Mesmo os que conseguiram professor, já no meio do ano, perderam dois bimestres. A promessa de reposição de aulas não foi cumprida em diversas unidades. “Meus 2 filhos, no 3º e 5º ano, começaram a estudar em 18 de junho. A escola disse que teria aula em tempo integral pra compensar. Isso não aconteceu”, denunciou Maria Gorete Pereira. Seus filhos estudam no Austregésilo de Ataíde, em N. Iguaçu.
Desde abril, O DIA denuncia o caos na Educação do estado. O déficit de docentes deixou 37.500 alunos de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental sem aulas e outros 420 mil estudantes nos demais segmentos.
INSCRIÇÃO: 6 MIL ACESSAM O SITE NO PRIMEIRO DIA
O primeiro dia de pré-matrícula na rede estadual foi de baixa procura: 6 mil alunos se cadastraram. Mas sobraram dúvidas sobre o novo procedimento, agora restrito aos pólos e ao site www.prematricula.seeduc.rj.gov.br. No Jardim Catarina, em São Gonçalo, o Colégio Suely Motta Seixas orientava pais a ir a uma LAN house (locais que alugam computadores) para fazer a inscrição, já que o sistema ficou fora do ar. Um cartaz na porta apenas informava o site da secretaria. “Não gostei. Tinham que divulgar o endereço dos pólos”, reclamou Ana Amália Motta, 39.
Mais sorte teve a dona-de-casa Luciana Soares Panceri, 35. Em cinco minutos inscreveu a filha no computador do Colégio Heitor Lira, na Penha. “Achei melhor que por telefone. Quando termina, eles dão comprovante. É mais seguro”, elogia.
Quem tiver dúvidas sobre o processo deve ligar para 2299-3788/ 3786/ 3376/ 3735/ 4266/ 3744 e 3385, sempre das 9h às 18h.
AULAS SERÃO PRORROGADAS
1—Os alunos que não tiveram aula perderam o ano? —Não. As aulas serão prorrogadas para cumprir os 200 dias letivos. Para isso, a Secretaria oferece professores em contrato temporário e GLPs. Casos isolados de falta de docentes estão sendo solucionados e serão resolvidos em definitivo com o concurso de 2007.
2—Eles serão aprovados mesmo sem terem aulas?—Não. Só após cumpridos os 200 dias. 3—Como? —Em julho, avaliamos com as coordenarias as necessidades de reposição. Ao longo dos 3 meses subseqüentes, alunos tiveram as aulas. Se não teve de determinada disciplina, conteúdos serão recuperados em janeiro ou em aulas de reforço no próximo ano letivo, em horário do contraturno.4—Escolas sem reposição de aulas serão punidas?—Estamos fazendo levantamento dessas unidades e tratando de modo pontual suas necessidades. 5—Como fica o boletim de quem não fez provas nem tem carga horária para se formar?—Na medida em que houver reposição, notas serão lançadas retroativamente. Elas estão garantidas no histórico escolar.
FLÁVIA MONTEIRO DE BARROS DE ARAÚJO, superintendente de Educação da Secretaria Estadual de Educação
2 comentários:
Este é o retrato vivo e a cores do nosso país. Nao tem professores porque nao tem dinheiro, mas o governador e uma cambada de puxa sacos estavam lá na Suiça gastando o nosso dinheiro. Safados!
Pois é, proximo das eleiçoes eles aparecem dizendo que a educaçao é prioridade. Dessa maneira? Só se for prioridade para os filhos deles nas escolas particulares.
Luiz Manoel
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