domingo, 5 de abril de 2009

Geografia do conhecimento

Publicado em 05/04/200a>

Danielle Rabello


Debater temas geográficos atuais tendo como base textos acadêmicos mas fora do horário de aula com alunos dos ensinos Médio e Fundamental a fim de aprofundar os estudos. Esta é a proposta do Clube de Geografia, implantado pelo professor de Geografia Leandro Santiago, de 27 anos, do Colégio Auxiliadora, em São Gonçalo.
A princípio, a ideia pareceu louca. Segundo o professor, muitas pessoas não acreditavam que os alunos teriam capacidade para entender o conteúdo dos textos acadêmicos. Uma segunda desconfiança veio em relação ao interesse dos alunos, já que a atividade era extracurricular e não previa qualquer tipo de gratificação, como brindes ou pontos no bimestre. O real benefício seria o conhecimento.
Com o apoio da direção do Colégio Auxiliadora, a iniciativa do professor tornou-se, em 2008, no bem-sucedido projeto "Clube de Geografia".
"Essa ideia surgiu nos tempos da faculdade em debates sobre o ensino de Geografia. O aluno do Ensino Fundamental aprende o conteúdo de uma forma e quando passa para o Ensino Médio descobre que não foi nada daquilo. Temos que desconstruir o que foi ensinado para ensinar o correto", contou Leandro.
Diante disso, o professor começou a achar que através dos avanços tecnológicos e, principalmente, do aceso à internet, com suas facilidades em pesquisa de qualquer assunto, a questão poderia ser diferente."
Os tempos são outros. O aluno do fundamental de hoje tem muito mais acesso à informação do que os de antigamente. A partir daí, creio que eles podem entender textos acadêmicos sim", disse Leandro.
O professor de Geografia escolheu três assuntos que ele achava que deveriam ser aprofundados fora do horário de aula e lançou o projeto. Os assuntos a serem debatidos foram Aquecimento Global, Política do Brasil e Geografia de São Gonçalo.
Para o descontentamento dos pessimistas, a procura dos alunos pelo grupo foi grande. Os grupos foram formados por equipes de cinco a oito alunos, que passaram por um esquema de seleção composto por avaliação das notas do primeiro bimestre, uma redação baseada em dois vídeos e entrevista.
"Achamos a ideia interessante porque ninguém ia tirar de nós o que íamos aprender", contou a estudante Eloísa Helena Chagas Alves, de 11 anos, aluna do sétimo ano.Surpreendendo a todos e, principalmente, aos alunos, apenas quatro integrantes cursavam o Ensino Médio, os demais, a maioria meninas, eram todos do Ensino Fundamental. O clube também proporcionou a interação entre as turmas do Ensino Fundamental até o terceiro ano do Ensino Médio.
"Alguns alunos não se inscreveram no ano passado porque achavam que não tinham chance de concorrer com os alunos do Ensino Médio. Agora que viram que é possível, estão ansiosos para participar", contou Vitória Juliana Melo, 13, aluna do oitavo ano.
Assuntos próximos da realidade dos jovens
Os grupos se reuniam uma vez por semana, na parte da tarde, no laboratório de informática do Colégio Auxiliadora. Em alguns momentos, eles também ultrapassaram os muros da escola para vivenciar alguns aprendizados.
Os três grupos foram bastante atuantes. O de aquecimento global desenvolveu atividades que podem contribuir para a diminuição do problema, gerando mudanças comportamentais dentro e fora da escola. Coisas simples, mas eficazes, como a conscientização a respeito da destinação do lixo.
O grupo de ‘Política do Brasil’ apresentou trabalho desde o Hino Nacional Brasileiro, passando pelo processo eleitoral e a função dos três poderes e chegou inclusive a tentar participar do projeto ‘Plenarinho’, desenvolvido na Câmara Federal, mas como poderia mandar apenas uma representante, a iniciativa não se concretizou.
A turma da ‘Geografia de São Gonçalo’ trabalhou o resgate da autoestima da população gonçalense através do conhecimento do município.
"Todo mundo fala mal de São Gonçalo, mas não conhece os pontos turísticos, como as fazendas e igrejas históricas, as cavernas e o vulcão. Foi bom poder tirar dúvidas, que às vezes não dá tempo em sala de aula", lembra Vitória.
O professor Leandro tenda expandir a ideia do clube para outros colegas e escolas. Para ele, o projeto demonstra que o sistema educacional do país precisa mudar para atender ao novo estudante.
"O modelo educacional está muito quadrado, não mudou nada em anos. Precisamos de novos modelos, coisas simples, mas que motivem o aluno", opina o professor.
O Clube de Geografia retoma suas atividades a partir de junho. Novos alunos se integrarão ao projeto, que este ano deve debater ‘Cidadania e lógica de mercado’ e a ‘Geografia de São Gonçalo. Os grupos de ‘Aquecimento global’ e ‘Política brasileira’ encerraram suas atividades.
O Fluminense

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